11/01/2014

A AQUECER...

Regressemos por momentos a 2014. Continuo em Bangkok, à espera do meu visto para a Índia, que teoricamente me é entregue na quarta à tarde, mesmo a tempo de ir a correr para o aeroporto. Tenho voo à noite. Espero que não haja problemas.

Por aqui, as coisas começam a aquecer. Os dias estão mais solarengos, as temperaturas a aumentar - mas com "aquecer" eu queria dizer a situação política, as declarações, rumores e a tensão crescente, nesta contagem decrescente para segunda-feira. Para o dia em que Bangkok vai ser "fechada". Ou, como eles dizem: desligada.

É difícil de explicar, o que tem acontecido nestes últimos dias. Por um lado vemos os discursos a ficarem mais cautelosos, a pedir calma - mas por outro parece haver um subtexto, umas entrelinhas, uns entre-parêntesis... uma espécie de ameaça, um atirar de culpas.

O Governo pede que as pessoas se abstenham de cometer actos ilegais, mas ao mesmo tempo admite que possam acontecer, fala em terceiros partidos, diz que vai controlar a situação mas que o ideal é as pessoas não virem para as ruas. E apesar da própria Comissão Eleitoral dizer que as eleições de dia 2 estão condenadas ao fracasso e que deviam ser adiadas, a primeira-ministra não cede.

A oposição, com Suthep sempre ao leme, não cede nem um milímetro, não muda o discurso, diz que quer reformas profundas mas também não apresenta soluções, alternativas, ideias. Todos os dias tem havido manifs, ontem um desconhecido abriu fogo no meio da multidão, matando uma pessoa e ferindo sete. Não foi apanhado, não sei como. Ninguém sabe. Aliás: há quem ache estranho. E muitps especulam que, à falta de uma real solução política, Suthep pode estar a tentar provocar o tão falado Golpe de Estado.

Quanto ao Exército: ora diz que vai intervir se for necessário, ora assegura que se vai manter quieto e que a sociedade civil deve resolver este problema sem intervenção. A imprensa especula todos os dias sobre um possível Golpe de Estado, o general Prayuth tanto faz declarações mais acertivas como vem pacificar os ânimos. Há quem defenda que seria melhor um acontecimento desta natureza, pelo menos as coisas serenavam entre os dois lados e alguém responsável tomava conta disto até haver uma solução. Mas outros defendem que um Golpe de Estado poderia degenerar em mais violência, e que os tailadenses devem encontrar o seu caminho democraticamente.

Ontem à noite, por exemplo, centenas de polícias e soldados começaram a posicionar-se junto a pontos estratégicos da cidade - aeroporto, edifícios públicos e até estações de televisão. Mais uma vez, hoje de manhã começou logo a falar-se de Golpe de Estado. Que foi negado, claro.

E apesar de todo este aparato e da tensão latente, a verdade é que Bangkok continua a sua vida "normal". Tem de ser. Os centros comerciais continuam cheios; na Khao San Road e na Rambuttri, não se dá por nada. Provavelmente a maior parte dos turistas que por aqui andam nem sabem o que se está a passar. Mas na segunda-feira... vamos lá ver o que acontece na segunda-feira.

Até lá: é esperar e ver. Faltam quarenta e oito horas. E pelo que tenho percebido nestes últimos dias, tudo pode acontecer.

Quanto à análise possível: opiniões há muitas, claro. Mas o que me parece mais claro é que há aqui uma guerra de duas personalidades muito fortes, Taksin e Suthep. A maior parte das pessoas com quem falo (fora aqueles que estão nas manifs, claro) dizem-me que Suthep é tão ou mais corrupto que Taksin. E que as duas forças políticas estão a criar estas tensões porque só assim impedem um verdadeiro progresso da sociedade tailandesa. O sistema político é um dos mais corruptos do mundo, dizem-me. E a solução não passa por desligar Bangkok - mas por desligar o microfone a Suthep, e o telefone a Taksin.


1 comentário:

Clara Amorim disse...

Obrigada, Jorge, por mais este testemunho...!