Ainda relativamente às três horas de aventura sobre duas rodas:
Tínhamos
saído de Bishnupur há pouco mais de meia hora e o sol aproximava-se
vertiginosamente do horizonte. Estimei mais meia hora de luz - ou seja,
dois terços do percurso iam ser feitos à noite. O que não foi,
concerteza, o nosso melhor momento em termos de planeamento. Devíamos
ter saído mais cedo, claramente. Conduzir à noite, na Índia, é ainda
mais perigoso do que de dia. E, no entando, apesar de me ter passado
isso pela cabeça, confesso que não era propriamente a ideia que dominava
o meu estado de espírito.
Eu seguia radiante.
Sentia-me
num clássico de Bollywood, a atravessar de mota a paisagem indiana,
sentado no meio de dois amigos, uma mochila à frente do que vai à
frente, uma mochila ao meu lado, outra atrás do que vai atrás. Os três a
viver uma aventura - só faltava um deles começar a cantar e aparecerem
as coreografias do costume, as cores e os ritmos, quem sabe uma indiana
de sari, com os cabelos a dançar ao vento e a fazer olhinhos e
boquinhas.
Ninguém cantou.
Mas o
indiano-da-frente informou-me que estávamos prestes a atravessar a
Floresta de Jaypur, uma enorme massa verde no mapa do West Bengal.
Dito-e-feito: uns minutos depois passámos um controlo da polícia e um
sinal com o nome da floresta em várias línguas. E foi então que o
indiano-de-trás disse qualquer coisa do género:
"É melhor despacharmo-nos a atravessar a floresta, porque este lugar é perigoso à noite."
Não liguei muito, os indianos são cheios de superstições, mas não resisti a saber mais:
"Perigoso, como?"
"Há bandidos. Mandam parar quem passa e roubam tudo. Não viste a polícia à entrada?"
Respondi
que sim e não disse mais nada. Estava à espera de alguma história
mirabolante e levei com uma verdade crua - e cruel. A ser verdade, não
me apetecia nada estar ali quando escurecesse."
O sol já se tinha posto há muito. A luz estava a diminuir rapidamente.
Pouco depois, como se eu tivesse perguntado mais qualquer coisa, o indiano-de-trás prosseguiu com os relatos:
"Há três dias um casal foi encontrado enforcado numa árvore."
Enforcados? Terei ouvido bem? Mas será que estamos a falar de mitos urbanos? Estas coisas
acontecem mesmo? Tenho de ir procurar no google, pensei. Mas claro que nunca
mais me lembrei.
E pouco depois:
"E também há animais selvagens."
"Tipo tigres?", perguntei a brincar. Já não há tigres selvagens na Índia, em teoria.
"Não, claro que não. Mas elefantes, javalis, cães selvagens e coelhos."
Coelhos. Medo.
Confesso
que, dado o estado de espírito meio enebriado com a essência do
momento, só me apetecia rir daquela conversa. Uma parte de mim desejava
que escurecesse rapidamente, queria fazer aquela travessia à noite e
sair sem problema, só para dizer que atravessei a Floresta de Jaypur à
noite. A Floresta Assombrada.
Mas de repente, saído das
árvores na berma da estrada, eis que vejo... um lobo. Não estou a
brincar, não estou a exagerar. Um lobo. Eu próprio tive de olhar segunda
vez para ter a certeza. Nenhum dos indianos o viu - mas eu vi. Um lobo.
Vamos lá a despachar, está bem? ;)
3 comentários:
Bem, não sei o foi pior... se um lobo ou um coelho!!! ;)
que medo...... e ele não fez nada??? eles nao andam em matilha???? Sai daí rápido antes que os outros saiam de trás das árvores e comecem a correr atrás de voces.....
Medo .....
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