31/12/2021

É O BICHO, É O BICHO!

No início de Outubro, quando voltei da minha viagem de dois meses pela Albânia, Montenegro, Turquia, Malta e Itália, anunciei a pulmões cheios que, para mim, a pandemia tinha acabado. Recarregado com as energias de uma aventura que se revelara ainda melhor do que as expectativas; e refrescado com a sensação de ter resgatado ao mundo os ritmos e as lógicas que conquistei ao longo dos anos; convenci-me de que, "a partir de agora, tudo o que me afectar não passam de réplicas do terramoto original”. Ou seja: comecei a planear 2022 como se fosse um ano normal, recusando-me a boicotar-me à partida e a condicionar planos e linhas de orientação, como fizera em 2021. Mal sabia eu o que via ia calhar na rifa. Não é que tenha mudado de ideias: continuo a achar que é preciso reclamar ao Ano Novo uma “normalidade”, por muito adaptada que seja, e por muito adaptável que seja preciso ser. Mas quem diria que, na contagem decrescente para o novo ano, que entretanto planeara celebrar na Tailândia, ia ser obrigado a um exercício de flexibilidade digno de um número de circo.


Primeiro, e como se não bastasse o quanto a minha família já fora afectada com a pandemia: mais um caso de covid. Um, não: três ou quatro. Mas um deles foi especialmente grave. O meu tio Xico, que era o único não vacinado na família (e não porque fosse contra, mas porque não ainda não conseguira… é uma longa história), passou mais de um mês ligado ao ventilador, entre cá e lá, recuperando aquele horror da incerteza que já viveramos no início do ano, com o meu padrasto. Só que, neste caso, as coisas acabaram de forma diferente. “Irreversível”, disseram os médicos um dia. E assim partiu uma das referências mais queridas da minha vida: o super homem de muletas que rasgava uma lista telefónica, que tinha uma gargalha que enchia uma casa e um coração que transbordava fronteiras; o bon vivant que, apesar de amputado, não abdicada de um passeio de mota e das suas viagens por África - e que um dia trocou Sintra por São Tomé. Porque sim, porque o coração assim comandou.

A cinco dias de partir para Bangkok, a Tailândia fez birra e mudou uma série de regras. Ao mesmo tempo, duas pessoas com quem ia viajar acusaram positivo, nos testes da zaragatoa. Noves-fora-nada e lá se foi o meu regresso ao Sudeste Asiático. Mas o ânimo prevalecia - e, como anunciara antes, adapte-se o que se tiver de adaptar. Não me deixei ir abaixo. Reunimos por zoom, debatemos datas e destinos, demos mil cambalhotas e… México, aqui vamos nós! Ainda íamos a tempo, mal elas recuperassem.

Que alívio! Tudo está bem quando acaba bem… ou não?

Faltavam três dias para eu sair para o México, quando… Ho ho ho! É Natal, é Natal, sinos a tocar… e adivinha lá o que me deixou o velhote do anúncio do refrigerante americano no sapatinho. Ah pois é. Omicron, é o que é.

Ou, como cantava o Iran Costa… ;)

Felizmente, não tenho tido muitos sintomas. Um pouco de febre no primeiro dia. O nariz a pingar no segundo. Garganta irritada nos dois seguintes - e agora estou bem. Mais entediado do que covidado, note-se.

Hoje acaba este ano maldito e, quem diria!, não estou na Tailândia, nem no México… estou por casa. E eu sei que até podia estar irritado com os deuses, ou o destino, ou lá-o-que-é; podia vir para aqui choramingar, fazer birra, levantar cartazes e organizar protestos. Mas não. Mantenho o que disse em Outubro: adapto quando for preciso adaptar, independentemente de quantas piruetas e mortais sejam precisos dar.

Há que manter-me positivo. Em espírito - não na zaragatoa. Cruzes credo. E assim que estiver bom, pisgo-me para longe, porque mais forte do que este Bicho de fim de ano, é o Bichinho que já tenho há muito tempo. Para esse não há cura.

Por isso, por agora vejo filmes, leio, reorganizo a casa… e, acima de tudo, planeio viagens! Não tarda nada, vou dar outra volta.

10/03/2021

8 VIAJANTES DO CARAÇAS

A propósito do Dia Internacional da Mulher, celebrado um pouco por todo o Mundo no dia 8 de Março, aproveito para, num aparente renovado entusiasmo com o blogue, partilhar contigo os perfis de oito viajantes portuguesas que admiro e sigo, no instagram (em alguns casos, não sei se é seguir ou perseguir, mesmo). 


Assim sendo, e em jeito de desfile na passerelle, venham de lá essas Super Mulheres!




MAMI PEREIRA

@mamigeographic

 

Não podia começar este artigo com outra pessoa. A minha “sis” é um monumento à Vida, um fogo-de-artifício disfarçado de Mulher – devia ser Património da Humanidade, a Mami. Não há Amizade como a Mamizade. A Mami é o meu Farol de Alexandria, o meu Taj Mahal e a minha Full Moon Party. É o meu Holi, o meu Muro das Lamentações, o meu Planetário e a minha Nona Sinfonia. E olha que todos estes “meus” e “minhas” nada têm de possessivo – o que seria! E logo num artigo a propósito do Dia da Mulher. São só formas de dizer. 

 


Vamos a viagens: no caso da Mami, não é pelo currículo que vou aqui "promovê-la", por muito impressionante que seja. É pela forma como vive a Viagem. Como encara o desafio, o insólito e o ridículo. Como partilha as suas descobertas, ilusões e desilusões.


A Mami tem muito mais do que só algum jeito para as palavras, um talento especial ou mesmo um dom. A Mami tem ginga. Ela pega nas ideias e veste o maillot, as luvas de boxe e uma cartola - e faz de bailarina, pugilista e artista de circo ao mesmo tempo. Ela é contorcionista, ilusionista e malabarista. É cozinheira. Escultora. Arquitecta. Palhaça. A Mami é maestrina. Ler um livro da Mami é viajar na maionese - em geografias, aventuras, música, emoções ou lá-o-que-for. É um exercício de crescimento intelectual, cultural e humano.

 


Se depois desta declaração de Mamizade, ainda não te apaixonaste perdidamente, espreita o seu perfil no instagram, que além de ter boas fotos e melhores textos, é um bom ponto de partida para o Mami-Universo. E se quiseres, até podes encomendar um dos seus livros.




MARTA DURAN

@boleiasdamarta

 

Conheci a Marta numa espécie de blind date a três. Tipo menage a trois - mas sem malandrices, não venhas com ideias. Foi no mesmo dia em que conhecemos a Mami. Andávamos os três a trocar mensagens há algum tempo - eu na Índia, a Marta na Guiné e a Mami nem me lembro onde, talvez na Indonésia. Éramos um triângulo amoroso no instagram - ou, se quiser ser mais  acertivo, um triângulo amizadoso.



A Marta pode muito bem ser a benjamim deste colorido ramalhete de oito mulheres com M grande, mas tem mais mundo debaixo dos pés do que muita gente crescida: fez voluntariado em Moçambique e no Nepal, estudou em Macau e calcorreou meia Ásia; foi com uma bicicleta daqui até à Guiné, fala crioulo, andou à boleia pela Europa; e, antes da pandemia, passeava turistas por Lisboa, num tuktuk, para juntar dinheiro para as voltas. Lançou há pouco tempo uma viagem ao Senegal e à Guiné, com a Nomad... e tem sempre mais alguma na manga.



Ninguém pára a Marta - mas, se quiseres, é possível ir à boleia das suas fotos, como eu, no seu instagram. Ou, se te apetecer ir dar uma volta ao Senegal e à Guiné, espreita o programa aqui.




TANIA MUXIMA

@tania_muxima

 

Já tinha ouvido falar de uma ou outra aventura da Tânia, ouvi-a no Festival de Cinema de Aventura, em Matosinhos, há ano e meio - mas nunca tínhamos falado. Nem por mensagem. No domingo passado, entrevistei-a no meu live do instagram, o "Porta de Embarque" - e desde os 81394 audios que trocámos, por whatsapp, na preparação da entrevista, que fiquei rendido a esta intrépida figueirense.



"A minha missão é divertir-me", disse-me num desses audios. E isto diz tudo sobre a Tânia.


Nasceu em Angola, aprendeu a andar no Brasil, estudou em Coimbra e fez-se gente na Figueira da Foz. Talvez porque já tinha tanto mundo dentro dela, durante algum tempo contentou-se com a sua terra natal - e, até aos vinte anos, parecia indisponível para outras aventuras para além dos amigos, do bodyboard e mil e uma distrações/âncoras. Até que foi surfar à Indonésia, à Austrália, à Nova Zelândia... e começou uma caminhada sem retorno que, na verdade, não é caminhada nenhuma, mas uma valente série de pedaladas.


A Tânia trabalha num abrigo de montanha, na Suíça, durante o Verão - e viaja principalmente no Inverno. Já fez meio mundo em cima de uma bicicleta, e a Islândia numa trotinete. Apesar de não ser muito dada às tecnologias, de vez em quando lá partilha qualquer coisa no instagram. E vale a pena acompanhá-la, aqui.




KATY DEODATO

@katydeodato

 

Quando nos conhecemos em Leiria, eu já sabia que tinha três coisas em comum com a Katy: ambos somos "bons garfos", gostamos de pessoas e temos uma pancada, que roça o vício, pela Ásia. Como não simpatizar logo com ela? 


A Katy nasceu na Córsega e cresceu em Vieira de Leiria - sempre com o mar à vista, portanto. Ou seja, é uma espécie de pirata, mas ao contrário: não faz mal a uma mosca; em vez de "terra à vista", está sempre à procura de água; e não tem perna de pau, nem um gancho em vez de mão - que eu saiba, tem tudo no lugar! A começar pelo coração - que é daqueles que não cabe em lado nenhum, está sempre a transbordar. Também não sei se gosta ou não de rum, tenho que lhe perguntar, da próxima vez que a vir. Mas qualquer coisa me diz  que gosta: pelo menos, não fez cara feia quando provámos aquele licor fortíssimo chamado Alphonso, em casa de uma família, em Kalibo (Filipinas).



A Katy também é lider de viagens e, surpresa!, os seus destinos incluem sempre praia. Pudera! Se quiseres ir com ela a Bali ou às Filipinas, espreita este link. Ou então segue-a no instagram e delicia-te com as paisagens por onde ela passa, e as pessoas com quem interage. Vale muito a pena.




FILIPA CHATILLON

@filipachatillon

 

A Filipa tem um sorriso e uma energia que desarma qualquer um. Aliás: a ONU devia contratá-la para missões de Paz, tenho a certeza que seria uma solução mais económica, ecológica e eficaz do que muitos "esquadrões" de capacetes azuis. Bastava o sorriso da Filipa e dois dedos de conversa, para ver o pessoal a hastear bandeiras brancas, a trocar armas por flores, a despir as fardas e a abraçarem-se uns aos outros.

 



Não sei se o facto da Filipa ter sido dentista, numa outra fase da vida que hoje parece mais outra reencarnação, tem influência no poder do seu sorriso. Provavelmente, sabe algo que o comum dos mortais não sabe. Espera lá... dentista?!, perguntas-me. Exactamente! Grande volta, hem? Agora é vê-la a liderar grupos da Nomad na Colômbia, a dar aulas de yoga e a organizar escapadelas em Portugal que são autênticas "viagens de dentro para fora".




GABEL OLIVEIRA

@gabeloliveira

 

Ainda não nos conhecemos pessoalmente – ainda! Eu sei que é só uma questão de tempo e oportunidade. Deixa o Bicho passar, vais ver. Fui "apresentado" à Gabel durante a pandemia, num live qualquer da vida, acho que foi no "festival online" da Metamorfose Ambulante, do Pedro On the Road, onde também participei.


Foi Uau! à primeira vista. A forma como descreveu uma série de peripécias já nem me lembro por que parte de África, a gargalhada e boa onda com que acarinha o insólito. Juro que me imaginei, naquele primeiro "contacto", sentado com a Gabel a beber uma cerveja ao pôr-do-sol e a trocar histórias de viagem, algures num cantinho qualquer do mundo, não interessa onde. Vai acontecer.  




Diz que a Gabel é economista, mas a sua grande paixão é mesmo viajar. É também tour leader da Landescape, leva grupos ao Sudeste Asiático e podes consultar as suas viagens aqui.




CARLA MOTA

@viajar_entre_viagens

 

A Carla praticamente dispensa apresentações. O seu blog é uma referência nacional para quem quer as melhores dicas, informações e curiosidades sobre este mundo e o outro. Okay: talvez não sobre o outro, entusiasmei-me um bocadinho. Mas é só porque é especialmente complicado lá ir e voltar para contar a história. Porque se desse, tenho a certeza que a Carla já lá tinha ido.




A Carla Mota é de Guimarães, mas nunca fica muito tempo seguido por lá. Esta professora de Geografia aproveita cada momento livre para calcorrear o mundo com o seu mais-que-tudo, o Rui. Que dupla! E juntam duas qualidades que combinam na perfeição, organização e entusiasmo, que foram cruciais na extraordinária volta ao mundo de ano-e-tal, que estavam a dar, quando foram interrompidos pelo Coron'Apocalipse.


Depois de fazer o Mongol Rally, há uns anos, a Carla começou a liderar grupos da Nomad pela Rota da Seda. Mas a vida dá as voltas que tem de dar, a blogger mudou o norte à bússola e passou a organizar viagens à Gronelândia com a mesma agência. Se tens curiosidade em conhecer paisagens insólitas, começa por espreitar o programa da viagem aquiQuem sabe se não decides juntar-te.





DÂNIA RODRIGUES


 

Last but not least, a minha discípula/herdeira/sucessora da viagem da Indochina, na Nomad. A Dânia é um dos seres humanos mais bonitos que conheço. E também foi, como em vários casos já aqui mencionados, Amor à primeira vista. Conhecemo-nos numa viagem de carro, três horas até uma montanha qualquer no norte de Portugal, para um encontro da Nomad. Éramos cinco no carro - e nós dois não nos calámos, em óbvio fascínio um pelo outro, fosse pelo amor pela Viagem como por detalhes tipo o facto dela ter raízes goesas, e eu mais-ou-menos, e vai-se a ver e temos amigos comuns em Goa. Ah: e o nosso amor pela Índia!


É sempre igual: quando combinamos um café, passamos meio dia juntos; quando almoçamos, ficamos quase para jantar. E quando partilhámos com um grupo a minha última Indochina, para lhe passar o testemunho e contar todos os meus segredos e truques, confesso que ao início estava receoso que, depois de um mês juntos, não nos pudéssemos mais ver à frente. Não podia estar mais errado (e ainda bem)! Não só não aconteceu como temia, como nos despedimos de lágrima no canto do olho, ao fim daquele tempo todo, com um vazio enorme no coração.


Por falar em coração: a Dânia tem um do tamanho do mundo, a juntar a um sorriso genuíno, puro e arrebatador. E uma cabeça "fora da caixa". Ela é ecologista!, feminista!, humanista!, anti-racista!... e muito mais, tudo com ponto de exclamação.

 

Só é pena não ter instagram. Eu sei que este artigo é sobre portuguesas viajantes com instagram, mas a Dânia não é muito dada "às redes". Mesmo o facebook, é só para alguns e não usa com regularidade. Por isso não me peças, que eu não dou. Mas podes sempre espreitar a página dela na Nomad, enquanto ela não se rende a essas andanças, e quem sabe conhecer com ela a Indochina ou o Nordeste da Índia, aqui.