26/05/2015

QUARENTA E QUATRO

Imagina que:

Tens um arroz de pato no forno há imenso tempo. Estará pronto? Não queres que queime, por isso entras na cozinha e só-para-ter-a-certeza pões-te de cócoras a olhar para dentro do forno. O calor beija-te o rosto, o pescoço, os braços, o peito.

Agora abre o forno e espreita lá para dentro.

Custa-te a respirar, não é? Que inferno. Quase não consegues abrir os olhos, para ver como está o arroz. E o mais normal seria fechar logo a porta do forno e sair da cozinha... mas imagina que:

Imagina que ficas com o forno aberto mesmo em frente à tua cara, a escassos centímetros. Aguentas vinte segundos, trinta, quarenta - e depois fechas a porta. Mas não te mexes: ficas ali à mesma. Bem perto. Mais quarenta segundos, um minuto no máximo. E depois abres o forno outra vez. Mais quinze segundos. Fechas meio minuto. Abres. E aguentas este ritual durante uma hora, duas, três.

Agora esquece o aroma do arroz de pato. Concentra-te na temperatura no teu rosto. Fecha os olhos e pensa que estás em cima de uma vespa, a viajar pela Índia.

Pois.

E se quiseres uma experiência ainda mais autêntica, imagina o cheiro de uma lixeira a arder, mais o fumo de escape de um camião que concerteza não passou na inspecção; e ainda o pó que o vento levanta.

Isto está difícil.

1 comentário:

Clara Amorim disse...

Coragem, coragem!!!