O Mahalaxmi Dhobi Ghat é uma espécie de bairro-lavandaria (a maior lavandaria a céu aberto do mundo, segundo o Guinness Book of Records), onde vivem cerca de duzentas famílias que se dedicam exclusivamente à lavagem de roupa. É um micro-universo com um ritmo e cores muito próprias, onde o acesso a estrangeiros é normalmente muito limitado, superficial e dependente dos humores e feitios dos guias turísticos improvisados - os touts.
Já tínhamos tentado entrar com o grupo da Aventura na Índia, no sábado. Conseguimos passar um dos portões e deu até para fazer algumas fotos, mas os touts apareceram e começaram logo a dizer que era proibido usar a máquina, e depois a rir sugeriram dar uma volta pelo ghat - a pagar, pois claro. Tudo num ambiente meio agressivo, onde dá sempre a sensação que estamos, eventualmente, sob ameaça de qualquer coisa. Mas sem nunca estarmos em perigo. Enfim: uma abordagem muito estranha, que de certa forma intimida quem ali vai, e que no sábado foi suficiente para, com um sorriso e um aperto de mão, nos irmos embora passados cinco minutos.
Mas no domingo foi diferente.
Desta vez era só eu, o Luís e o Inácio. Tínhamos ido à Mahalaxmi Race Course para ver as corridas de cavalos, mas por algum motivo que eu não me dei ao trabalho de entender, não havia corridas ontem. Os cavalos estavam em Pune, as apostas em Bangalore, não percebi nada e acabámos por ir embora, meio frustrados porque apetecia a todos ir ver as corridas. Azar.
"Vamos experimentar o Dhobi Ghat outra vez. Fica mesmo aqui ao lado", sugeriu o Inácio.
E que ideia boa.
Entrámos os três como se fôssemos "da casa", sem hesitar nem olhar para ninguém, e só quando apareceu o tout de sábado a chamar é que parámos. O Inácio deu alguma conversa, acedemos a dar uma volta com ele mas sem "serviço de guia", queríamos só espreitar...
A espreitadela durou umas três, quatro horas.
Deu para o Luís desenhar o que queria, para eu fotografar o que queria, para o Inácio fazer os contactos que queria. Eu fiz a barba, sentado num dos tanques. Assistimos ao jogo de críquete entre Mumbai e Bangalore, na televisão. Bebemos chá - vários. Fizemos conversa, conhecemos histórias de vida, trocámos contactos e sorrisos. Foi uma tarde inesperada, completamente à vontade, a certa altura a mulher do "guia" já telefonava ao Inácio para falar com o marido. Muito giro.
Entrámos como estranhos e saímos como amigos. Com promessas de manter contacto, de voltar "um dia destes". Muito, muito interessante.
4 comentários:
que experiencia fantástica. e esse é um dos sitios de topo de Bombaim! Saudades que ficam. Boas viagens!
Inimaginável por aqui...!
Adorei conhecer... :)
Grandes fotos, Jorge. Parabéns.
Olá à dupla que vocês fazem..Luís Simões e Jorge Madeira..está a ficar mais e mais entusiasmante...as suas fotos e comentários...os desenhos do Luís...imperdível!
Alex
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