16:00
Fiquei a descansar na ponte, enquanto o Bunty foi buscar a
mochila. Já estamos no limite, queríamos ter chegado aqui às três,
para dar tempo de fazer tudo com calma, agora só devemos sair às quatro e meia, na melhor das
hipóteses. Supostamente o caminho até ao próximo refúgio demora três a quatro
horas... com o joelho assim, vamos lá ver.
16:30
Adormeci, por momentos, nas pedras junto ao rio. Acordei,
molhei os pés na água gelada, outra vez. O joelho parece melhor. Não há sinais
do Bunty, ele já devia estar a voltar - mas não o vejo.
16:45
Começo a ficar preocupado. O refúgio não é assim tão longe.
Será que aconteceu alguma coisa? Será que se perdeu - ou talvez se tenha
magoado, também. Aparecem três chilenas com quem tínhamos estado à conversa, na
descida, pouco antes de me ter magoado. Não o viram.
17:00
Alguma coisa se passa. Vou voltar para o refúgio, começa a
ficar tarde demais para sair para o caminho. Sapatos calçados, mochila às
costas, o joelho melhorou consideravelmente - lá vou eu.
Mas nem foi preciso andar muito. Passados 300m lá o vi, de mochila às costas, a vir na minha direcção.
Mas nem foi preciso andar muito. Passados 300m lá o vi, de mochila às costas, a vir na minha direcção.
"O que aconteceu?"
"Chegou um grupo enorme e estavam todos a fazer check in, a miúda da recepção não podia sair para me levar ao depósito das mochilas e tive de esperar..."
"Chegou um grupo enorme e estavam todos a fazer check in, a miúda da recepção não podia sair para me levar ao depósito das mochilas e tive de esperar..."
Sentámo-nos junto ao rio, para ele descansar um pouco.
Conversa-puxa-conversa, queres água, vai um biscoito, deixa lá ver o
mapa...
17:30
Arrancámos, finalmente. O mapa "diz" que são
quatro horas e meia, até Los Cuernos. Toda a gente nos disse que se faz em quatro
horas. E antes do drama do joelho, acreditávamos que conseguíamos em três e meia. A ver vamos. O jantar é servido até às 21:30... é essa a nossa
meta.
Avançámos a bom ritmo, mas depressa voltaram as dores. Por
sorte, o caminho era relativamente plano, a maioria das vezes - pelo menos ao
longo da primeira hora. Arranjámos um pau para servir de bengala e continuámos,
um pouco mais devagar, mas com confiança. O tempo estava agradável, caminhámos
nas margens de um enorme lago, começavam a aparecer algumas nuvens no
horizonte, mas nada demais. Sabíamos que tínhamos luz até oito, visibilidade
até às oito e meia.
18:30
O sol desapareceu atrás das montanhas e a temperatura
começou imediatamente a descer. O joelho está cada vez pior, conforme há mais
subidas e descidas. As nuvens insistem em agrupar-se, à nossa volta, e
começamos a temer por chuva. Apercebemo-nos que as chilenas não devem estar
longe: às vezes ouvimo-las a falar, de vez em quando vemos pegadas molhadas nas
pedras.
Não estamos a avançar ao ritmo que pensávamos estar a
avançar. Ao princípio parecia que sim, pelas placas que informam sobre as
distâncias; parecia que íamos mais depressa. Mas não: ainda falta muito. Ainda
vamos a meio. Decidimos não acender a lanterna (só temos uma, mais os
telefones!), para não ficarmos demasiado dependentes dela. Se a acendermos,
passamos a ver apenas para onde aponta, tudo o resto será trevas. E sem
lanterna, enquanto ainda há uma réstia de luz, os olhos habituam-se e dá para
avançar.
20:30
Cada vez mais escuro, mas teimamos em não acender a
lanterna. Avançamos ao mesmo ritmo que as chilenas, às vezes dá para ver as
luzes das lanternas delas ao fundo. De vez em quando sinto um pingo - acho que
vai começar a chover.
21:00
Acendemos as luzes. Começou a chover. O joelho dói mais do
que antes. Já não vemos as chilenas em lado nenhum, e por duas vezes ficámos
com a sensação que nos tínhamos perdido, mas ao vermos as marcas laranjas
ficámos mais descansados. Não devíamos ter saído tão tarde.
21:30
Vemos, finalmente, as luzes do refúgio - algures entre as
árvores. Aceleramos o passo, a chuva está mais forte agora mas temos a confiança
e a energia reforçadas, por encontrar o refúgio. Descemos por um caminho de pedras
e vamos parar à beira de um rio, as águas correm com toda a força - como
atravessar? Não há uma ponte? Tem de haver uma ponte! Descemos um pouco a
margem e nada. Subimos um pouco e nada. Chove cada vez mais, é impossível
atravessar, que irresponsabilidade, como é que não há uma ponte aqui...
Ainda consideramos arriscar a travessia, mas é demasiado
estúpido. Calma, Jorge. Calma, Bunty. Tem de haver uma solução. E as chilenas,
onde estão? Não acredito que tenham atravessado o rio, assim. Está escuro,
estamos cansados, chove e temos dores. Calma. Bebemos o que resta da água e
decidimos subir de novo o caminho. De certeza que nos enganámos em algum lado.
Temos o refúgio mesmo à nossa frente, a menos de cinquenta metros, temos de dar
a volta a perceber se estamos no caminho certo.
Subimos, a custo. Estamos exaustos. Mais vinte metros e
descobrimos onde nos enganámos. Há um caminho à esquerda - este, por onde
viemos, é o trilho dos cavalos. Avançamos pelo novo caminho e descobrimos uma
ponte. Uma ponte! Nunca fiquei tão contente por encontrar uma ponte!
4 comentários:
Isto é o que se chama uma verdadeira aventura .... Arriscada, mas já passou. Agora quero saber noticias desse joelho. Como tem estado?
Adoro aventuras dessas. Aventura sem risco não é aventura. O Inácio não te contou uma "parecida" que tive na Amazónia peruana???? 3 horas perdido...
Boa continuação....
Pois bem... Esperemos que ainda haja jantar do outro lado da ponte...! :)
E esse joelho precisa de muito descanso!!!!!!!
Lamento pelo teu joelho, espero que te recuperes rapidamente e que tudo volte ao normal para poderes seguir viagem.
Não tenho comentado, mas tenho seguido o blog e o relato das aventuras com muita atenção, em especial agora que já estás no Chile.
Continuação de boa viagem.
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