Mas fez-se bem. O tempo tinha melhorado, no regresso do Vale
Francês, e assim continuou no final da tarde, sem chuva, as nuvens lentamente a
dispersar, o céu cada vez mais azul, lembrando o dia da ascenção às Torres.
Sempre em amena cavaqueira, discutimos histórias e História, filosofias e
tradições, religião e cusquices - penso que foi, das caminhadas que fizemos até
agora, aquela em que mais falámos. Excepção feita ao período em que
atravessámos uma vasta área de floresta queimada, triste vestígio do incêndio
de que já ouvimos falar várias vezes. Foi um momento de silêncio, aquele em que
mergulhámos ao deparar com as árvores e o chão preto - e só conseguimos reagir
para amaldiçoar a irresponsabilidade e a má sorte de quem causou isto.
Chegámos tarde ao refúgio, já noite outra vez - mas ainda a
tempo de jantar. E que belo repasto nos esperava. Aliás: este refúgio de Paine
Grande é de um nível bastante superior aos outros. Também um pouco mais
impessoal, confesso, por ser maior - por parecer-se mais com um hotel do que um
refúgio. Mas foi bom: chegar e comer logo uma refeição farta e quente; e como
já era tarde e muita gente estava a dormir, atribuiram-nos uma camarata só para
nós, para não incomodarmos quem já estava na cama. Gosto disto.
Na manhã seguinte, chuva e vento outra vez. As dores no
joelho continuavam na mesma. O plano inicial era subirmos a "última
perninha do W" (última para nós, porque vimos da direita para a esquerda -
a lógica diz que é a primeira) e descermos de novo até ao refúgio, a tempo de
apanhar o barco de regresso a Puerto Natales. Mas os planos foram feitos para
serem alterados, ao que parece. Tivemos a sorte de ver as Torres del Paine rodeadas
de um azul celestial, sem uma única nuvem a atrapalhar. E no meio de um dia
chuvoso e cinzento, o céu abriu-se para nos mostrar o Vale Francês, ontem. As
dores são muitas, o ritmo é lento, se formos ao Glaciar Grey corremos o risco
de não voltar a tempo do barco. E a chuva - não apetece nada caminhar à chuva.
Estamos contentes com tudo aquilo que vivemos nos últimos
quatro dias. Decidimos não subir ao Glaciar Grey. Fica para a próxima. Vamos
voltar para Puerto Natales no barco da manhã e descansar um ou dois dias, antes
de avançar novamente.
E a verdade é que, com a caminhada extra no primeiro dia,
acabámos por fazer um "W" à mesma. Só não foi o "W" do
costume.
1 comentário:
Digamos que foi um "W" lesionado!!!;)
Mas, ainda assim, Wonderful!
Enviar um comentário