Mas assim que chegámos, percebemos que este lugar não tinha
nada a ver com a ibizesca Punta del Este. Fomos largados numa estrada de terra
batida, perto de um pequeno restaurante praticamente vazio - que era a única
porta aberta. Tudo o resto estava de luzes apagadas.
Tínhamos encontrado no guia um hostel chamado "El
Diablo Tranquilo" e perguntámos por direcções a uma pessoa que estava à
porta do restaurante.
"Segues por aquela rua, viras na terceira à direita, ou
será na segunda... bem, mas depois é a primeira à esquerda e sobes... tens o
hostel do lado direito... não, do lado esquerdo... é mais ou menos por
aí", e apesar de tudo lá fomos pelas ruas largas mal iluminadas, sempre
por terra batida, entre casas com "boa pinta", algures entre cabanas
de praia e casas "de arquitecto". Não se via viv'alma na rua, mas
também não nos sentíamos ameaçados.
A primeira impressão de Punta del Diablo não podia ser
melhor. Apesar de ainda nem termos a noção de onde estávamos, apesar de
estarmos perdidos à noite numa terra que não conhecíamos... a verdade é que
este lugar tinha uma energia especial.
Quando vimos uma bicicleta a descer por uma rua, acenámos a
pedir ajuda. Estávamos completamente à nora. O rapaz fez sinal para sairmos da
frente e passou por nós com um sorriso rasgado, mas sem conseguir parar a
tempo. Não tinha travões. Mais à frente conseguiu abrandar e deu a volta,
voltou para perto de nós a rir e perguntou se podia ajudar.
"Sabes onde fica o Diablo Tranquilo?"
"Sim, claro. Descem por esta rua e viram na segunda à
esquerda, sobem e vão ver o hostel do lado esquerdo, mais à frente. Querem que
eu vá convosco?"
Agradecemos a simpatia e deixámo-lo seguir caminho, não
havia necessidade de nos acompanhar, agora que estávamos tão perto. Mas a
sinceridade do gesto tocou-nos, e chegámos ao Diablo Tranquilo com um sorriso
estampado nos rostos.
No hostel estavam mais de dez pessoas a beber e à conversa,
o lugar parecia muito simpático e com "boa onda". Mas estávamos
cansados e cheios de fome, por isso largámos as mochilas na camarata e saímos
quase de imediato, à procura de comida.
E agora entra o bacalhau.
Apesar da grande surpresa do dia ser Punta del Diablo
propriamente dita, penso que essa surpresa só seria completamente revelada na
manhã seguinte. Por isso dividi os relatos de hoje em quatro, com as pequenas
quatro surpresas... e a quarta, que é a estrela deste post, é o bacalhau.
Quando finalmente nos sentámos à mesa de um restaurante (vazio, mas era o único ali perto e estávamos cheios de fome),
muito nos surpreendeu o facto do menu conter dois pratos feitos à base de
bacalhau. Pedimos duas Patrícias e depois de estudarmos todas as opções, decidimos experimentar:
O Bunty pediu o Bacalhau à
Veneziana com papas de milho, uma receita renascentista - segundo o menu - inventada
por Miguel Angel Buonarotti, que segundo a wikipedia era um escultor, pintor,
poeta e engenheiro italiano, um dos melhores do seu tempo, o primeiro a quem
foram dedicadas duas biografias, e que teve uma influência sem paralelo no
desenvolvimento da arte ocidental. Nunca tinha ouvido falar do senhor, mas o
bacalhau estava óptimo e fiquei curioso ;)
E porque queríamos experimentar
mais que um novo sabor, pedi os raviolis de bacalhau com molho de tomate e
amêndoa. Que combinação de sabores! Estava óptimo, muito saboroso... mas apetecia-me
algum picante. Falta um bocadinho de picante.
O Bunty vinha traumatizado com a
falta de picante na Argentina, apesar de ter gostado da comida lá. Em Montevideo
também não tivémos sorte, a única coisa que nos deram nos restaurantes fora
pimenta preta - que não é bem um picante, convenhamos.
Por isso, quando pedimos neste
restaurante se tinham picante, qual não foi a surpresa quando nos trazem um
piri-piri. E, caso, prefiram, têm aqui Tabasco. Ou então malaguetas esmagadas.
Vamos a contas: mais do que apenas o bacalhau, neste post há a surpresa do picante, a surpresa do hotel, a surpresa desta simpática terrinha chamada Punta Del Diablo.
O Cabo Polónio que se "ponha
a pau", que este lugar está mesmo a pedir para ficarmos só mais um
bocadinho....
2 comentários:
A esta podemos chamar uma crónica bem picante...!
Ou não se passasse ela em Punta del Diablo!!! :)
Também adorei Punta del Diablo. Isto já é Uruguai a sério. Eu fui primeiro a Punta del Diablo, depois a Cabo Polónio e só depois a Punta del Este. Quando cheguei a Punta del Este só queria cortar os pulsos e flagelar-me por não ter ficado no Cabo.
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