Podia exaltar intensos pormenores e acrobacias do voo que
nos levou da Patagónia para Buenos Aires. Podia dramatizar peripécias
relacionadas com a viagem de taxi até ao aeroporto, ou fazer suspense com o check-in, descrever as pessoas à nossa volta
no avião, quem sabe filosofar um pouco sobre aquilo que me passou pela cabeça,
quando vi pela primeira vez as luzes da capital argentina espalhadas no escuro,
como uma rede de ouro a boiar num mar negro.
Mas este post
sobre o voo da Patagónia para Buenos Aires não é bem sobre o voo propriamente
dito.
Curiosamente, pensei neste texto num autocarro que me trouxe
de Quito para a fronteira com a Colômbia. Uma viagem completamente diferente,
portanto - tanto no espírito como no contexto geográfico.
Mas como é que já vou "tão-à-frente", e o relato "tão-atrás"?
São férias, senhor. São férias.
Num mundo perfeito, eu ia deixar uma semana de intervalo entre
relato e realidade, para ter tempo de gerir os conteúdos. Estava com medo de
não ter internet, de deixar o blog "pendurado", queria controlar,
esquematizar, preparar. Lá está: num mundo perfeito.
Esqueci-me que desta vez estava de férias.
E aos poucos, como numa paisagem onde o sol desce no
horizonte, também essa sombra que são os relatos se foi esticando, esticando -
cada vez mais "longe" do corpo real. O intervalo de uma semana passou
a duas, a três - e agora, enquanto aqui no blog "vamos" em quarenta
dias de viagem, no terreno já são quase oitenta. O tempo passa a correr.
Não: o tempo passa a voar.
Tantas aventuras e emoções para partilhar aqui, ainda. A intensa
semana em Buenos Aires - que é a cidade que se segue. A agradável surpresa que
foram os dias no Uruguai. As emoções fortes no Chile e na Bolívia. O reencontro
com velhos amigos no Peru. A sensação de ver, finalmente, Machu Picchu pela
primeira vez.
O problema é que às vezes quero ter tudo descrito ao
pormenor, quero partilhar cada pequeno episódio - mas se quiser contar tudo
agora, em vez de noventa e nove demoro novecentos dias. Assim, para ver se
"reaproximo" o relato do tempo real, decidi acelerar um pouco com
isto. Claro que não vou, numa semana, resumir tudo o que vivi - mas em vez de
demorar dois meses para partilhar um mês de viagem, troco as voltas e tento
contar, num mês, dois. Será que consigo?
Voltando ao mapa propriamente dito: Buenos Aires. A
colorida, fascinante e hiperactiva capital da Argentina é a cidade que se
segue. Ficam algumas cores.
2 comentários:
Sim, o tempo passa a voar...!
Mas por aqui vamos tendo voos muito altos, emocionantes, coloridos, sentidos, histórica e culturalmente muito interessantes, ...!!!!!!!
O tempo voa, mas nós, os teus leitores, temos tempo! Tempo para ir saboreando estas belíssimas crónicas que nos transportam para tantos lugares mágicos...!
Obrigada pela partilha, Jorge!
Por ler "Buenes Aires" sempre pensei que fossem "Buenos"...
Continua, acelerado ou não, que vais Bem!!!
Abraço
Enviar um comentário