Na noite antes de sair para a caminhada no Parque Nacional
de Torres del Paine, recebi a trágica notícia de que um grande amigo (e
companheiro de várias viagens) tinha sofrido um acidente horrível, em casa - e
que estava numa situação muito delicada, entre a vida e a morte. Não interessa
entrar em pormenores agora - e se partilho esta informação é porque achei
importante, para entender o estado de espírito com que parti para o trekking, e
a motivação que este acidente me deu depois de me ter magoado.
Podia demorar-me em filosofias sobre a fragilidade da vida e
de todas as coisas que damos por garantidas, as gargalhadas e as lágrimas, os pequenos prazeres, os
confortos e até os dramas, os medos, as discussões. Tudo pode mudar num instante -
é verdade. Mas não me vou prolongar muito nisto. Não é o lugar. Não é o momento.
Quando, na descida das Torres, me magoei no joelho, comecei
por amaldiçoar a sorte e os deuses, e-agora-como-vai-ser... porque custava-me a
dobrar, porque custava-me a esticar, a subir e a descer, e porque nunca tinha sentido uma dor assim. E se é uma coisa que fica. Dei cabo do joelho, tantos trekkings ainda por fazer. Dramas.
Na fase final da descida, pedi ao Bunty para ir andando à frente, sempre à vista.
Se eu não demorasse muito, podia ficar a descansar junto à ponte, no
caminho que segue para Los Cuernos, enquanto ele ia buscar a mochila grande ao
refúgio da primeira noite. Assim, quando ele voltasse, eu estaria mais fresco outra
vez - e, tinha a certeza, conseguiria fazer o caminho para Los Cuernos, o
segundo refúgio, que era mais plano, sem tantas descidas e subidas.
E por falar em descidas: foi um autêntico calvário, chegar
até à ponte. Parei várias vezes, inventei posições e formas de andar que
atenuavam a dor, tomei um comprimido, apliquei o bálsamo... mas durante todo o caminho nunca consegui abstrair-me da
tragédia que acontecera ao meu amigo António. Eu ali no meio do nada, sem saber
sobre o evoluir do seu estado, e a queixar-me de uma estúpida dor no joelho - e
eis que comecei a mentalizar-me que todo o meu esforço poderia ser convertido
em energia, que de alguma cósmica forma atravessaria meio-mundo para o ajudar.
Há quem acredite em coisas mais estranhas.
António: vou completar este trekking, com muito ou pouco
esforço, com ais no joelho e uaus em meu redor - e cada momento, cada
passada, cada energia gasta é um investimento. É para ti.
:(
4 comentários:
FORÇA JORGE
E FORÇA ANTÓNIO!
as minahs energias tambem estao comvosco
Que mais dizer...?
Muita força também Jorge o António é um super António e está a aguentar-se com todas as suas forças e tenho a certeza que vai querer ouvir todos esses relatos quando vieres a casa. Grande beijinho
As melhoras ao António e sobretudo para ti, porque em Dezembro "Temos" de lá ir!!!!
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