26/05/2013

AS MÃES DE MAIO


Quem são estas velhotas que cobrem a cabeça com um lenço branco e marcham em frente à Casa Rosada, entoando canções e palavras de ordem - parece perguntar um casal asiático, enquanto tiram a máquina fotográfica da mochila.

Estas mulheres são as Mães da Praça de Maio. Concentram-se aqui, no coração de Buenos Aires, todas as quintas às três da tarde, para exigir notícias sobre os filhos desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina - e hoje viemos aqui só para vê-las.

Confesso que não estava à espera deste aparato todo: contava encontrar meia dúzia de pessoas a caminhar em protesto - nunca isto. Dezenas de pessoas organizadas a cantar, chorando o rapto dos seus filhos nos anos 70, por militares do regime, só porque os pais eram considerados "subsersivos".



Com 35 anos de existência, a associação tenta manter viva a memória dos argentinos, no que aos desaparecidos diz respeito - mas hoje faz muito mais do que isso. As Mães de Maio têm agora um papel muito mais activo na sociedade, lutando por variadíssimos direitos dos cidadãos, contribuindo para causas sociais diversas, e alertando as consciências para muitas questões.

Por exemplo: no dia em que assistimos ao desfile deste movimento vencedor do Prémio Sakharov (em 1992), as Mães leram um comunicado à imprensa, divulgado em quase todos os meios nacionais, em que lamentavam as vítimas das cheias em La Plata e pediam aos cidadãos para serem mais activos na ajuda às pessoas afectadas. Voluntariaram-se para receber donativos e ajuda em alimentos, comprometendo-se com a sua redistribuição por aqueles que mais precisavam.


A energia destas mulheres é incrível - juro que se sente no ar. O sofrimento nas rugas que decoram os seus sorrisos, uma imensa doçura de avó no olhar... é difícil de explicar. Elas não são só as mães dos seus filhos desaparecidos. São as mães da consciência de um país. E cumprem esse papel com dedicação, amor e muita garra.

Queria ter publicado esta crónica no Dia da Mãe, mas infelizmente não foi possível. Partilho-a hoje, duas semanas depois, como homenagem a todas as mães e à sua dedicação desinteressada, apaixonada, crítica.
 
Mais sobre as Mães da Praça de Maio aqui.

3 comentários:

Clara Amorim disse...

Fantástico...!

LV disse...

Sem palavres, que força!!!

LV disse...

Sem palavres, que força!!!