SILÊNCIO!, QUE SE VAI DANÇAR O TANGO

Está nos postais e nos souvenirs made-made-in-china. Está nos grafittis que decoram as paredes da cidade, está nos cartazes, nos nomes dos cafés, no sorriso de nariz empinado. Está nos bambolear de ancas, nos saltos altos, nas sensuais curvas, atrás de cada esquina. Está no ar que se respira, no suor que a cidade transpira, no princípio do arrepio.

O tango não é somente o ex-libris de Buenos Aires, declarado pela UNESCO de Património Cultural Imaterial da Humanidade. Não é apenas tema de filmes, livros, conversas e fotos de turistas. Em Buenos Aires, o tango é o som que preenche o espaço entre cada batida do coração.

Velhos, novos, bonitos e feios. Não há limite de idade, estatuto social, preferências clubísticas, opções políticas, inclinações sexuais. Não interessa se fazes o sinal da cruz, se rezas virado para Meca, se meditas em posição de lótus. Se tens dentes de ouro e peúgas brancas, se vens directo do escritório ou se foste a casa vestir o melhor fato de domingo, se gostas de passear os cães dos vizinhos nos tempos livres, se tens estranhas manias que ninguém entende, se gostas de revistas cor-de-rosa, não interessa que colecções fazes, se és vegetariano, se estás em dieta, qual o apelido dos teus pais, o teu curriculum, não interessa o que dizem as tuas tatuagens.

Tivemos a sorte de ficar em San Telmo, na semana passada em Buenos Aires - e num dos muitos passeios pela cidade, seguimos o conselho dos nossos anfitriões e passámos pela Praça Dorrego ao final da tarde. Era domingo, e dezenas de locais tinham-se concentrado num dos cantos da praça, depois dos turistas dispersarem. Por todo o lado se desmontavam as bancas do mercado de fim-de-semana... mas naquele modesto recanto, no meio de uma pequena multidão, desenrolavam-se umas lonas no chão. E de repente o som inconfundível de uma milonga, e os olhares começam a cruzar-se em cumplicidade.

Aqui dançou-se o tango - pessoas normais, como eu e como o estimado leitor deste blog. Trocaram-se pares e sorrisos, uns mais concentrados, uns mais talentosos. Mas todos dedicados.

E porque não sei dançar o tango, dediquei-me a sacar algumas fotos. Não só durante este bonito momento, mas ao longo de uma semana inteira em Buenos Aires. Ficam algumas cores, sensações e instantes dedicados ao tango, então: