FERRY PARA HONG KONG

Depois de uma última volta matinal por Macau, voltei ao final da manhã para a pensão e arrumei as malas. Eram onze e meia e a recepcionista começou a bater à porta, literalmente a mandar-me embora. Abri e sorri-lhe, ela começou logo a apontar para o relógio, como se ele estivesse avariado e a culpa fosse minha; ao que respondi, sempre a sorrir, que ainda faltava meia hora para o meio-dia, e com-licença-faz-favor, fechei a porta.

Mas passados dez minutos já a tinha aos gritos outra vez. E mais cinco minutos, mais outras pancadinhas. Twelve-o-clock! Twelve-o-clock!

"Não é nada, ainda faltam quinze minutos, deslarga-me que o check-out é só ao meio-dia."

Só rir.

Cinco-para-o-meio-dia. Mal saí do quarto dei de caras com duas mãos estendidas: uma estava a pedir-me a chave, a outra a devolver-me o key deposit.

"Então até à próxima", e fui-me embora.

O cais não ficava longe, por isso fui a pé. Mas claro que o calor e a humidade compensaram a proximidade... e cheguei ao ferry a suar em bica.

"És um homem de sorte", disse-me um indiano com quem me cruzei no caminho. Devia achar que eu estava a chegar, e de certeza que isto tinha esquema envolvido. Para me levar aos casinos, ou qualquer coisa do género. Nem parei para pensar, queria chegar depressa ao cais. Não tanto pelo ferry, confesso, que sai de quinze em quinze minutos. Mas pelo ar condicionado.

Ainda ouvi o indiano a dizer "a sério, tens cara de quem tem sorte!"

Ao que respondi, sempre sem parar:

"Obrigado, tem um bom dia!"

Deve-se sempre agradecer um comentário destes. Não vá ser sincero.

Sorte ou não, lá consegui lugar no ferry que estava mesmo a sair. Ainda tive de correr da bilheteira até ao dito, mas entrei em segurança, deixei as mochilas onde me disseram para deixar as mochilas, e sentei-me no lugar que correspondia ao número indicado no bilhete.

Hong Kong, aqui vou eu.