31/10/2014

POR FALAR EM BRUXAS

Vem mesmo a calhar, esta coincidência entre o Halloween e o passeio que fiz ao Monte Popa, a duas horas de Bagan. Como disse antes, este lugar é o centro espiritual daqueles que veneram os nats.

E quem são os nats, afinal?

Os nats são espíritos idolatrados no Myanmar - uma crença pagã mais antiga que o Budismo e que conseguiu resistir até aos dias de hoje.

Há trinta e sete Grandes Nats e dezenas ou centenas de outros menos importantes, que podem até ser espíritos de árvores, animais, plantas, rios - mas os principais trinta e sete, esses foram quase todos humanos. E têm uma coisa em comum: todos morreram de formas especialmente violentas. Por causa disso, são espíritos irrequietos, que de certa forma não fizeram as pazes com o mundo dos vivos. Ou porque foram injustiçados, ou porque não entendem a razão da sua morte - enfim, há que apaziguá-los.

Isto não quer dizer que os nats sejam espíritos maus. Nada disso. Mas precisam de ser constantemente "apaparicados", para que se consiga uma certa paz entre o mundo dos espíritos e o dos vivos. Ou seja, os crentes fazem oferendas com frequência. Aliás: antigamente até era costume fazerem-se sacrifícios, mas com o crescimento do Budismo na Ásia algumas práticas mais violentas das crenças pagãs e animistas foram aos poucos abandonadas.

Assim sendo: toca a dar presentes. Muito dinheiro (há sempre notas nas mãos das estátuas, no colo, à volta), muita fruta e alguma comida (porque um nat que se preze gosta de estar sempre bem alimentado) e até cigarros, álcool, roupa, acessórios e muito mais.

Enfim: a verdade é que poderíamos ficar aqui durante muitos parágrafos a descortinar estes rituais tão ricos e de certa forma kitsch... mas parece-me que, para uma primeira abordagem, estamos conversados. Um dia destes pode ser que se aprofunde um bocadinho.

Além de que eu sei que têm de ir escolher as vossas fatiotas para hoje à noite ;)

Quem sabe até se inspiram num destes nats.




Já agora: em Popa quem manda é uma senhora que tinha dois filhos que também morreram de forma trágica, como ela. A senhora é uma espécie de Nossa Senhora de Fátima meets Priscilla, a Rainha do Deserto. Ora vejam e digam lá se não é:



1 comentário:

Clara Amorim disse...

Grande fonte de inspiração, sem dúvida!