Depois de arrumar e organizar as fotos no computador; depois
de editar as que tenciono partilhar aqui no blog; depois de identificar
momentos altos e curiosidades... fui dar uma volta às experiências vividas nos
últimos dois dias e três noites em Mandalay e confesso que está a ser
complicado pôr tudo num só post, ou
eventualmente dar uma ordem lógica, mesmo que dividida por partes, a tudo o que
vimos, ouvimos, provámos e vivemos, eu e os oito viajantes da Nomad com quem
estou a explorar a Birmânia.
Que cheias foram estas cinquenta e sete horas e meia em
Mandalay.
E à falta de espaço e tempo (meu e provavelmente vosso), decidi
resumir cronologicamente esta louca odisseia que agora deixo para trás,
enquanto descemos de barco o rio Irrawaddy em direcção a Bagan.
Tudo começou na terça-feira às 21:00, quando chegámos no
comboio vindo de Yangon, depois de quinze longas horas de solavancos e
gargalhadas. Já na plataforma, ainda mareados da viagem, fomos abordados por um facilitador que
garantiu-me ter transporte para o grupo. Fui atrás dele, mas chegando à rua dei de caras com dois carros
normalíssimos - e eu queria um transporte local. Apontei para uma carrinha de
caixa aberta com cobertura tipo-tenda e disse que queria qualquer coisa daquele género. O homem olhou
para mim com cara de este-é-doido-ainda-por-cima-depois-da-mais-cansativa-viagem-de-comboio-do-universo...
mas sorriu. Olhou para os outros birmaneses à nossa volta e eles também sorriram.
E eu, pois claro. Eu também sorri. E olhei para o grupo de sete portuguesas e um português
com quem estou a viajar - e eles sorriram connosco. Óptimo: todos a sorrir.
Isto vai correr bem.
Cinco minutos depois estávamos a atravessar as ruas de
Mandalay, sentados na parte de trás da carrinha que eu tinha apontado, com mais três-ou-quatro
birmaneses que, como nós, levaram para casa uma história para contar.
Começa bem.
Check-in, duche rápido e jantar - e antes que a carruagem
dourada se transformasse em abóbora voltei para o quarto, a ver se actualizava
o blog e o facebook... mas os olhos teimavam em fechar-se, vá-se lá entender
porquê.
Quarta-feira.
10:00
Apesar de ter acordado mais cedo para finalizar pormenores e
adiantar-me noutros assuntos da viagem, encontrei-me às dez com o grupo.
Tinhamos à espera sete bicicletas e dois trishaws - no post que publiquei antes deste resumo
mais ou menos as voltas correspondentes.
14:00
Um pneu furado, uma queda que apesar de não ser grave ainda
estava fresca... e o restaurante?, onde está o restaurante? Não encontrava o
restaurante. Só pode ter fechado. Sabia bem onde era, não havia por onde me
enganar. Um lugar castiço numa esquina junto à estrada, onde nem se falava
inglês, onde tinham apenas um prato de arroz com carne mas que curiosamente no
ano passado tinha sido considerada uma das melhores refeições da viagem. Acho
que fechou.
Acabámos no Golden Duck, que como o nome sugere é
restauranre chinês, com direito a mesa redonda com placa giratória e tudo - mas
em boa verdade há que ser justo e dizer que comemos muito bem. Além de que tínhamos vista
privilegiada sobre o canal da cidadela.
16:30
Chegámos aos dois gigantescos leões brancos no sopé do Monte Mandalay e subimos os mais de mil
e setecentos degraus até ao templo no topo. Pelo meio: muitas lojinhas, pequenos templos e budas vários, adivinhos, superstições.
Assistimos ao pôr-do-sol do topo, metemos conversa
com monges budistas, aprendemos um pouco sobre as suas vidas e os seus hábitos
- e eles praticaram inglês e conheceram também outras culturas. Quando chegámos
outra vez lá abaixo, era já noite cerrada. É hora de voltar para o hotel.
O rabo estava menos dorido do que imaginara. Mas as pernas já
se queixavam.
De qualquer forma: foi um dia bom, que encheu as medidas -
mas que ainda não acabou. Como que para compensar do almoço em sítio chique,
levei o grupo a jantar no lugar mais down-to-earth que conhecia. Para quem não
sabe, down-to-earth em birmanês significa uma espelunca onde os cotovelos ficam
pretos quando os encostamos ao plástico que cobre a mesa; onde o calor
suporta-se a custo, com uma ventoinha enorme que serve para toda a sala; os
empregados andam de um lado para o outro... descalços; a clientela é toda, ou
aparentemente toda, do sexo masculino (fora o nosso grupo, que em nove pessoas
tem sete mulheres). Enfim: coisa fina. Mas o mais importante: a comida era boa.
E a cerveja gelada.
23:00
Cama.
E eis que chega quinta-feira.
05:00
Partimos, ainda noite cerrada, em nove motas com driver. Mesmo a tempo de assistirmos ao
nascer-do-sol em frente à maior ponte de teca do mundo - dentro de dois barcos
a remos. Que calma. Que paisagem! Que paisagem!
08:00
Depois de uma volta pela ponte U Bein, tomámos o
pequeno-almoço... e surpresa!, um dos nossos drivers convidou-nos a assistir ao
casamento da irmã de uma aluna sua. Nem pestanejámos.
09:00
Casório numa aldeia, com direito a sessão de fotos com os
noivos, mesas cheias de comida e até uns abanicos de presente. Éramos, claro
está, o centro das atenções. Toda a gente a rir e a tirar-nos fotografias,
cheios de cuidados para que estivéssemos sempre bem.
A vida é boa. E é preciso
saber dizer sim às oportunidades que surgem. Nenhum de nós vai esquecer este
momento tão depressa.
10:00
De volta à estrada. Atravessámos o Irrawaddy para visitar a
zona monástica de Sagaing, com monges e templos a dominar toda a paisagem.
Almoço num restaurante local muito castiço, onde as
raparigas do nosso grupo foram desafiadas pelas drivers femininas a aplicar o
tanakha no rosto. Quase todas alinharam - e proporcionou-se aqui, de uma forma
completamente espontânea, mais um momento alto de um dia fértil em pequenos
pormenores.
14:00
Atravessámos de novo o Irrawaddy, em direcção a Inwa, uma antiga capital do reino onde hoje em dia se visitam inúmeras ruínas e templos.
Das motas passámos para umas carroças muito engraçadas, mas logo na primeira
ruína começou a chover. E na segunda: que carga de água! Mandei as carruagens
seguirem para perto do rio - na margem oposta esperavam-nos as motas -, para
atravessarmos no ferry. Mas não havia ferry enquanto chovesse daquela maneira.
16:00
Que seca.
Que molha!
17:00
Depois de mais de uma hora à espera, o barco começou a "fazer piscinas" para levar as pessoas para o outro lado. Depois tomámos
um chá quente e envolvemos as mochilas com sacos de plástico, pois ainda
tínhamos uma hora de viagem até ao hotel. Deixámos o Mahamuni Pagoda para o
regresso a Mandalay, no final da viagem - e voltámos para "casa",
onde chegámos: ensopados.
20:00
Jantar mesmo ao lado do hotel. Estávamos estafados - mas
felizes. Que dia! Que dia!
Sexta (hoje):
Saímos pouco depois das cinco e meia da manhã. Dez minutos
de carro e chegámos ao cais, onde embarcámos no N Mai Kha, o barco que nos leva, enquanto escrevo estas linhas, em direcção a Bagan.
Novos lugares e novas voltas nos esperam nesta aventura - mas que novas histórias, que outros acontecimentos, que experiências?
Descubram o programa possível ;) dentro dos imprevistos e surpresas normais de uma viagem desta natureza, neste link:
1 comentário:
Que bonito diário!!!
E nós temos sempre tempo...! ;)
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