Diz o Ahmed:
"Não vale a pena termos esperança de que algo bom ainda vai acontecer. Hoje é daqueles dias em que quando parece que não pode piorar, alguma coisa acontece ainda mais horrível."
"Não vale a pena termos esperança de que algo bom ainda vai acontecer. Hoje é daqueles dias em que quando parece que não pode piorar, alguma coisa acontece ainda mais horrível."
Vira a boca pra lá, ó amigo da terra das pirâmides. Estamos dentro do
barco, quase-quase a ir embora, ou assim parece - e tu vens com maldições
faraónicas e profecias de algibeira? Imagino logo o barco a parar a meio da
viagem, uma chuvada bíblica e nós a afundar; ou um ataque coordenado de tubarões, ou de piratas,
ou... ainda pior: de extraterrestres.
Nada disso: eu mantenho a esperança!
Mesmo depois de tudo o que passámos desde que saímos de
Kuala Lumpur, e apesar de já serem quatro da tarde e pouco restar que se
aproveite: eu mantenho a esperança! Eu continuo a almejar por um mergulho no
mar, eu sonho com o momento em que toda esta tensão, todas estas frustrações e
ansiedades - tudo isto vai desaparecer como que por magia, no momento em que
mergulhar na Long Beach.
O barco arrancou e apesar de uma ou outra selfie, de sorrisos
de cumplicidade e algumas palavras trocadas, cumprimos esta última etapa quase
toda em silêncio, pensativos, como que a tirar conclusões onde elas não têm de
existir. O dia acabou por ser quase todo desperdiçado - azar. Aproveita-se ao
dobro o de amanhã, se for preciso.
A viagem demorou o que era suposto demorar. Sem inesperados nem insólitos, sem surpresas nem eu-n-ao-disses.
Parámos primeiro na Coral Bay para largar duas pessoas, pouco depois estávamos ao largo de Long Beach, o nosso destino.
Passámos para o barquito a motor que nos levou à praia. E juro que quase que chorava, quando ao sair da embarcação enfiei finalmente o pé na água e senti os dedos enfiarem-se na areia.
Parámos primeiro na Coral Bay para largar duas pessoas, pouco depois estávamos ao largo de Long Beach, o nosso destino.
Passámos para o barquito a motor que nos levou à praia. E juro que quase que chorava, quando ao sair da embarcação enfiei finalmente o pé na água e senti os dedos enfiarem-se na areia.
Tudo está bem quando acaba bem?
Mas quem disse que já acabou? Isto só acaba quando eu
estiver todo dentro de água, já disse.
Conseguimos dois bungalows no D'Rock, o mesmo onde fiquei
das outras vezes que aqui estive. Boa vista, varandas largas, camas limpas. E
muito em conta.
"Encontramo-nos daqui a cinco minutos, rapazes."
"Vamos só pôr os calções e estamos prontos,"
respondeu-me o Omar.
"Óptimo, que estão a aparecer umas nuvens e é melhor
despacharmo-nos. Era só o que faltava, começar a chover antes de entrarmos na
água."
Nem dois minutos depois estávamos os três a sair dos bungalows de
fato-de-banho e mais-nada, em passo acelerado para a praia, descendo os degraus
de dois-em-dois, a rir e a dizer coisas parvas. Nem queríamos acreditar que
estávamos prestes a mergulhar. Juro que sentia o coração mais inchado, como se
não coubesse dentro do peito, como se fosse difícil de respirar. Não conseguia
parar de rir. Mas de repente o céu fez-se negro, assim do nada, como se as
nuvens se tivessem escondido atrás das palmeiras à espera que aparecessemos na
praia... e assim sem-mais-nem-menos, sem-menos-nem-mais, porque o destino quis
que fosse-o-que-vai-ser, ou deus e os anjinhos, os santos e as superstições:
catrapum! Uma carga de água daquelas que "abrem" telejornais, que são
tema de filmes de ficção científica: deixámos de ver a montanha do outro lado
da praia, deixámos de ver a praia, quase que deixámos de nos ver uns aos outros.
E agora? Nem este pequeno - diria mesmo derradeiro - prazer nos é permitido?
Olhámos uns para os outros. Encharcados em segundos.
O que fazer. Voltamos para os bungalows?
Enfim: molhados por molhados..
Nem foi preciso dizer nada. Continuámos a descer as escadas, pisámos o areal e desatámos a rir. Éramos os únicos na praia. Não se via nada nem ninguém. Cinzento o céu, cinzento o mar, e uma espécie de horizonte desfocado branco-brilhante. Corremos até à água e entrámos. O contraste do mar quente com a chuva fria. O barulho ensurdecedor dos grossos pingos a cair no mar, água a furar água, custava até abrir os olhos, custava até respirar, mas não conseguíamos parar de rir. Falávamos aos gritos, que momento!, que momento!, e todas as horas na estrada, todas as horas de espera, todo o cansaço e as frustrações, tudo se foi. Corpo, espírito, alma - lavou-se tudo e lavou-se bem lavadinho.
Enfim: molhados por molhados..
Nem foi preciso dizer nada. Continuámos a descer as escadas, pisámos o areal e desatámos a rir. Éramos os únicos na praia. Não se via nada nem ninguém. Cinzento o céu, cinzento o mar, e uma espécie de horizonte desfocado branco-brilhante. Corremos até à água e entrámos. O contraste do mar quente com a chuva fria. O barulho ensurdecedor dos grossos pingos a cair no mar, água a furar água, custava até abrir os olhos, custava até respirar, mas não conseguíamos parar de rir. Falávamos aos gritos, que momento!, que momento!, e todas as horas na estrada, todas as horas de espera, todo o cansaço e as frustrações, tudo se foi. Corpo, espírito, alma - lavou-se tudo e lavou-se bem lavadinho.
Este fim-de-semana, apesar de mais curto um dia, tinha tudo
para ser um bom-fim-de-semana.
E foi.
:)
2 comentários:
Imagino que não haja clicks de todas essas risadas...! Que pena! ;)
Mas queremos fotos dessas ilhas paradisíacas... Quando o tempo melhorar, claro! :)
Adorei o relato! Sente-se o desespero também e a tua alegria ao entrar no mar!
Estamos agora em Kuala Lumpur e confirmamos as chuvadas as 16:30h ;)
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