Acabara finalmente a espera.
Mas assim que chegámos ao autocarro de onde o facilitador
nos acenava, ficámos a saber que o seu destino era Kota Bharu, a uma hora de
taxi do ferry. E eu tinha comprado um "bilhete especial", mais caro,
directo para Kuala Bhesut.
"É pegar ou largar," disse o homem sem qualquer
cerimónia, "este é o último autocarro, se não estiveres satisfeito podes ir
ao balcão pedir o reembolso do bilhete."
"E durmo onde? Junto à estrada? Ou apanho um taxi para
o centro e perco o fim-de-semana?"
Ele ficou a olhar para mim com cara de este-passou-se.
Entrei no autocarro, claro. Estava há mais de duas horas à
espera na rua. Não ia ficar em Kuala Lumpur. Esperava-nos uma noite no
autocarro, mais uam hora de taxi. Podia ser pior. Podia - e foi. Mas já lá
vamos.
Há que ver o lado positivo das coisas, não é? Consegui que o
homem me reembolsasse um terço do valor que tinha pago inicialmente. Nada mau.
Quanto ao autocarro: ar condicionado no máximo, como seria
de prever na Malásia. Eis um fenómeno que não consigo entender, este dos
autocarros malaios tentarem recriar, durante as viagens nocturnas, o ambiente
de uma expedição à Antártida. Não estou a exagerar: poderia viajar numa câmara
frigorífica que não era muito pior. Mas felizmente vinha preparado. Vesti o
polar e o gorro de lã, só não saquei do cachecol e das luvas porque não os
tinha comigo, depois meti mais um Imodium porque depois de cinco horas começava
a sentir a barriga às voltas outra vez... e agora não me parecia a melhor
altura para corridas à casa-de-banho. Digo eu.
Partida. Largada. Fugi...
Partida. Largad...
Partida. Largada. Fu...
Parti...
Caos.
Isto não fugia nem por nada.
Até partia. Até largava. Mas fugir.
Que irritante pára-arranca, este. Passou-se uma hora, e mais
outra, e mais uns minutos - e nem o autocarro avançava, nem eu adormecia. Duas
e pouco da manhã. Ainda estávamos a sair de KL. Caos. Tenho que dormir, pensei.
Se continuar nesta ansiedade, vou stressar para nada. Porque não posso fazer
nada. Que timing. Que péssimo timing para fazer esta viagem. Eu e a Malásia
inteira na estrada.
Decidi tomar meio comprimido para dormir.
Adormeci.
Acordei. Alguém me abanava pelo ombro. Onde é que eu estou?
Que horas são? Já chegámos? Temos que mudar de autocarro, diz-me a voz da
pessoa desfocada à minha frente. Sete da manhã, diz-me o telefone. Onde é que
estamos? Temos que mudar de autocarro. Sim, já percebi. O que aconteceu? Uma
avaria. Levanto-me e olho à minha volta, para ter a certeza que não deixo nada
ali. O que aconteceu? Onde é que estamos? Estamos parados há quase uma hora. O
autocarro avariou. Mandaram vir outro. Temos que mudar.
Isto não pode estar a acontecer...
Mas estava.
Ainda meio-a-dormir, segui os egípcios e entrei com eles no "novo" autocarro. E se empresto umas aspas à palavra "novo" é porque não tinha nada de recente, esta desenrascada solução para o infortúnio sofrido. O ar condicionado não funcionava, o que combinado com o facto de agora já ser dia, criava as condições ideais para, da Antártida de há pouco, passarmos directamente para um hammam turco.
"A que distância estamos de Kota Bharut?", perguntei ao rapaz sentado ao meu lado. Tinha ar de quem conhecia o caminho.
"Duas horas," respondeu-me com convicção.
Demorámos cinco.
1 comentário:
A saga segue dentro de horas...! ;)
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