21/06/2013

O POST POSSÍVEL, TENDO EM CONTA QUE ME SINTO ESMAGADO PELO QUE VI HOJE

A meio da tarde apareceu o nosso guia, que se foi apresentando à medida que nos "arrumávamos" no carro. O Pablo era freelancer, tinha estudado História e Geologia, ou História da Geologia, ou Geologia da História - não me lembro bem, mas o senhor era definitivamente um expert.

"De quantos pôr-do-sol vocês se lembram, na vossa vida?"

O Pablo tinha um orgulho confesso em partilhar a sua terra natal com os turistas, e apesar da resistência da família, que não considerava o trabalho à altura do seu estatuto social, fez-se guia turístico.

"Hoje vão assistir a um pôr-do-sol que jamais irão esquecer."

O Pablo tinha uma especial aversão a grupos grandes. E a máquinas fotográficas. Ou seja: andámos o tempo todo a desviar-por-aqui e a fugir-por-ali, despachem-se porque eles vêm aí, evitando as concentrações de turistas, que chegavam de minibus em ruidoso e colorido rebanho. Para nós foi óptimo, claro, porque visitámos o Vale da Lua, o Vale da Morte, a Quebrada de Kari, as Três Marias e o Mirador do Coyote, entre muitas dunas, formações rochosas e vulcões ao longe... tudo o que os outros grupos viram - mas só nós seis, sem niguém à volta a maior parte do tempo. Sozinhos, aos saltos num todo-o-terreno que só acrescentou emoções fortes ao passeio.





Diz quem sabe destas coisas que o Deserto do Atacama é o lugar mais seco do planeta. Parece que, em algumas partes, não chove há mais de quatrocentos anos - e o Pablo explicou-nos que uma das causas deste fenómeno é o facto dos Andes funcionarem como uma esponja, absorvendo toda a água das nuvens que se alojam à volta, e por isso é que "deste lado" é tão seco, e "do outro" tão verde.

A verdade é que o cenário é absolutamente esmagador.





O Vale da Lua deve o seu nome à extraordinária semelhança que a paisagem tem com a superfície lunar. Explicou-nos o Pablo que havia aqui, há muitos-muitos séculos, um enorme lago de água salgada que, ao elevar-se devido a uns "abanões", criou a Cordilheira do Sal. Os depósitos de areia, barro e sal conviveram durante milénios com inundações, erupções vulcânicas e muito vento - e a erosão deu nisto: uma área repleta de interessantes formações rochosas, enormes dunas de areia, depósitos de sal.

É uma experiência inesquecível, o passeio ao Vale da Lua. Com ou sem turistas à mistura.



"Agora esqueçam as máquinas e fechem os olhos, sintam a energia que emana da terra, fiquem em silêncio. Encontramo-nos daqui a vinte minutos ali ao fundo, depois da terceira rocha, eu espero por vocês lá."

O Pablo era um espiritual.

Entretanto ficámos a saber que uma das raparigas que vinha no carro era geóloga, e tinha reservado o tour com ele de propósito, para aprofundar um pouco mais. E como queria cortar nos custos, disponibilizou os lugares vagos no carro para os outros hóspedes do hotel - nós, portanto.

Há gajos com sorte.




O único lugar onde não conseguimos evitar a multidão foi ao pôr-do-sol. Mas mal-de-nós se tivessemos a pretensão de estarmos sozinhos num dos lugares mais bonitos do Chile!

Sentámo-nos perto do Mirador do Coyote, assim chamado por ser parecido com aquele dos desenhos animados, e deliciámo-nos com o espectáculo: enquanto o sol mergulhava no horizonte, a paisagem em redor reagia numa espécie de histerismo cromático, com cores e texturas pouco próprias para quem se oferece a esta árdua tarefa de "descrever coisas".





No regresso, o Pablo partilhou um dos momentos mais especiais da sua "carreira". Há alguns anos os U2 vieram tocar ao Chile e aproveitaram para dar um passeio pelo país. O Pablo foi o escolhido para os guiar em Atacama, claro. E logo ele, que é um fã. Contou-nos um ou outro episódio sobre esses dias, e só tinha maravilhas a dizer do Bono Vox, que "também é um espiritual". Até chorou a ver o pôr-do-sol.

E vocês: de quantos pôr-do-sol vocês se lembram, na vossa vida?


4 comentários:

Carla Mota disse...

Lembro-me desse pôr-do-sol no Atacama como se fosse hoje. Mas também me lembro que vi o concerto dos U2 em Santiago do Chile em 2011. Seria esse concerto que Pablo falava?

Clara Amorim disse...

Eu adoro o pôr-do-sol e já vi muitos inesquecíveis...!
Mas como este, ainda que seja através da tua máquina, nunca vi nenhum igual!!!
BREATHTAKING!!!
Obrigada por esta partilha, também ela esmagadora!!!

Diogo Martins disse...

lembro-me de um há uns anos, na praia de Santa Cruz (Torres Vedras) que ainda me fica na memória por toda aquela luz a esvanecer pelo mar de água que é o Atlântico.

kyta disse...

Vi Alguns: Nascer e pôr no deserto de Wadi Rum na Jordania, alguns em Moçambique, no Salar de Uyuni...