Assim sendo: marquei o despertador para as três e meia, apaguei as luzes
e boa noite, Bunty. À falta de sono contei carneiros a saltar a cerca, um carneiro, dois carneiros, três, quatro... nem
custou muito a adormecer.
O pior foi acordar.
Abri os olhos, ensonado. O quarto estava completamente
escuro, mas alguma coisa me inquietava. Insónias. Deve ser do medo de não
acordar com o despertador, pensei em slow motion. Respirei fundo e virei-me para o outro lado da cama. Tenho que adormecer outra vez, não há razões para estar preocupado, quando o
despertador tocar eu acordo.
Mas não conseguia - e não vale a pena soltar o rebanho.
Voltei a mudar de posição, sempre em slow
motion, como se cada movimento precisasse de ser negociado... e à falta de coisa melhor para fazer, decidi ver que horas são. Será que falta muito para o despertador
tocar?
Estiquei o braço - o telefone estava em cima da mesa de
cabeceira, ao lado dos óculos. Na cama ao lado, o Bunty ressonava baixinho. Cerrei os olhos para ver melhor, aproximei o telefone do rosto... eram...
...quase cinco da manhã!
Nãããããooo!
Senhoras e senhores: haviam de me ver em modo fast forward.
"Acorda, Bunty, acorda! São cinco da manhã, perdemos a
carrinha para os geysers!"
Ainda ele se estava a levantar, já eu me calçava.
Saí a correr para a rua mas não vi nada. Já devem ter passado, pensei. Então a noite
fria lembrou-me que ainda não tinha vestido o casaco, nem as luvas, nem o cachecol. Vi um casal mais à frente, também à espera, fiz-lhes sinal.
"Já foi embora," disseram-me à distância. "Esteve à
vossa espera uns dez ou quinze minutos e depois foi embora, não há muito
tempo."
Que estúpidos! Como é que nenhum dos dois não ouviu a m... do despertador!
Ainda tinha esperança que passassem segunda vez, por isso voltei
a correr ao quarto. O Bunty estava quase pronto, com cara de quem ainda não percebeu se está acordado ou a sonhar. Fui num salto à casa-de-banho, lavei os
dentes, vesti os agasalhos que tinha que vestir, enchi uma pequena mochila com o
fato-de-banho e a toalha, a máquina fotográfica, eu-sei-lá-o-quê.
Esperámos uns vinte minutos debaixo de um estreladíssimo céu. E nada, claro. Foram embora, estávamos à espera do quê. Esperaram um pouco, não aparecemos, foram embora. Simples.
Cinco e meia da manhã - decidimos voltar para o quarto
e dormir mais um bocado. Que estúpidos. Desperdiçámos dinheiro, tempo, sono,
energia e uma experiência única. Mas não vale a pena dramatizar agora: não são
horas de dramatizar. Dormir. Precisamos de dormir. E quando a agência abrir, vamos lá
explicar o que se passou. Logo se vê.
3 comentários:
Pois, e neste momento também em modo de "fast forward" até à próxima crónica...! :)
Ainda andavas com as horas de sono todas trocadas ... Tb 20 e tal horas de camioneta 2 dias antes ... Ainda nao tinhas tido tempo de por o sono em dia .....
Acontece aos melhores....
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