22/06/2013

DRAMA EM FAST FORWARD ÀS 5 DA MANHÃ

Deitámo-nos relativamente cedo ontem à noite, porque vinham-nos buscar de madrugada para o tour aos geysers de El Tatio. A senhora-da-agência bem que nos avisou: a carrinha passa à porta do vosso hotel, mas ninguém vai acordar ninguém. Têm de estar na rua à espera, a partir das quatro, que eles fazem a ronda dos hotéis.

Assim sendo: marquei o despertador para as três e meia, apaguei as luzes e boa noite, Bunty. À falta de sono contei carneiros a saltar a cerca, um carneiro, dois carneiros, três, quatro... nem  custou muito a adormecer.

O pior foi acordar.

Abri os olhos, ensonado. O quarto estava completamente escuro, mas alguma coisa me inquietava. Insónias. Deve ser do medo de não acordar com o despertador, pensei em slow motion. Respirei fundo e virei-me para o outro lado da cama. Tenho que adormecer outra vez, não há razões para estar preocupado, quando o despertador tocar eu acordo.

Mas não conseguia - e não vale a pena soltar o rebanho. Voltei a mudar de posição, sempre em slow motion, como se cada movimento precisasse de ser negociado... e à falta de coisa melhor para fazer, decidi ver que horas são. Será que falta muito para o despertador tocar?

Estiquei o braço - o telefone estava em cima da mesa de cabeceira, ao lado dos óculos. Na cama ao lado, o Bunty ressonava baixinho. Cerrei os olhos para ver melhor, aproximei o telefone do rosto... eram...

...quase cinco da manhã!

Nãããããooo!

Senhoras e senhores: haviam de me ver em modo fast forward.

"Acorda, Bunty, acorda! São cinco da manhã, perdemos a carrinha para os geysers!"

Ainda ele se estava a levantar, já eu me calçava. Saí a correr para a rua mas não vi nada. Já devem ter passado, pensei. Então a noite fria lembrou-me que ainda não tinha vestido o casaco, nem as luvas, nem o cachecol. Vi um casal mais à frente, também à espera, fiz-lhes sinal.

"Já foi embora," disseram-me à distância. "Esteve à vossa espera uns dez ou quinze minutos e depois foi embora, não há muito tempo."

Que estúpidos! Como é que nenhum dos dois não ouviu a m... do despertador!

Ainda tinha esperança que passassem segunda vez, por isso voltei a correr ao quarto. O Bunty estava quase pronto, com cara de quem ainda não percebeu se está acordado ou a sonhar. Fui num salto à casa-de-banho, lavei os dentes, vesti os agasalhos que tinha que vestir, enchi uma pequena mochila com o fato-de-banho e a toalha, a máquina fotográfica, eu-sei-lá-o-quê.

Esperámos uns vinte minutos debaixo de um estreladíssimo céu. E nada, claro. Foram embora, estávamos à espera do quê. Esperaram um pouco, não aparecemos, foram embora. Simples.

Cinco e meia da manhã - decidimos voltar para o quarto e dormir mais um bocado. Que estúpidos. Desperdiçámos dinheiro, tempo, sono, energia e uma experiência única. Mas não vale a pena dramatizar agora: não são horas de dramatizar. Dormir. Precisamos de dormir. E quando a agência abrir, vamos lá explicar o que se passou. Logo se vê.

3 comentários:

Clara Amorim disse...

Pois, e neste momento também em modo de "fast forward" até à próxima crónica...! :)

Lv disse...

Ainda andavas com as horas de sono todas trocadas ... Tb 20 e tal horas de camioneta 2 dias antes ... Ainda nao tinhas tido tempo de por o sono em dia .....

kyta disse...

Acontece aos melhores....