10/06/2013

DRAMA NOS ANDES (parte 1)

Saímos de Mendoza logo de manhã, a bordo de um autocarro da companhia El Rapido - nome que, esperávamos nós, nos poderia trazer alguma sorte. Contudo, e como já mencionei num post anterior, a primeira abordagem foi uma redonda desilusão: a janela à nossa frente estava coberta por um autocolante com publicidade a sabe-se lá o quê, e tivemos de viajar com a paisagem filtrada por milhares de pequenos círculos.

Sem o panorama privilegiado que pensávamos que íamos ter, acabámos por dividir a atenção entre as montanhas, do lado de fora - e alguns episódios do Game of Thrones que tinha gravado no computador. Esta série tem sido uma companhia constante ao longo dos dias na América do Sul - e posso dizer, sem constragimentos, que estamos viciados nas aventuras do clã Stark, temos uma aversão pouco comum ao rei Geoffrey, deliciamo-nos de cada vez que aparecem os dragões.

Mas voltando ao El Rapido: esperavam-nos seis a sete horas de estrada até Santiago do Chile, segundo os senhores que nos venderam o bilhete. E apesar das mordomias incluídas no serviço (filmes, snacks e sacos de enjoo), a verdade é que a viagem acabou por ser marcada por uma avaria.

E não estou a falar de um singelo atraso tipo "é só trocar a peça e arrancamos já de seguida":

Estávamos a atravessar os Andes há tempo suficiente para ter a certeza que viajávamos a alta altitude - e a dureza da passagem confirmava isso mesmo. Também já não devia faltar muito para a fronteira com o Chile, pensávamos... quando subitamente o autocarro encostou à berma. Olhámos em redor, à procura de justificações: um restaurante, uma casa-de-banho, uma loja de souvenirs ou apenas um mirador. Mas nada. Tínhamos parado no meio do Nada. E assim ficámos, imóveis no mapa de estradas, dez minutos sem perceber porquês e quandos, para então voltarmos a arrancar. Não foi nada, convencemo-nos a nós mesmos.

Mas passados outros dez minutos, parámos novamente.

E desta vez, o autocarro não voltou a arrancar.

O "assistente de bordo" surgiu rapidamente no meio do corredor, olhou para os passageiros com ar de quem vai anunciar tragédias bíblicas e em tom de "mantenham-se calmos, não há razão para pânico", anunciou aos presentes que havia uma avaria técnica e que o autocarro não ia conseguir sair dali. Avisou-nos que ia retirar todas as mochilas e malas do porta-bagagens e pediu que cada um guardasse a sua. Íamos esperar que outros autocarros passassem na estrada, fazer sinal para que encostassem e pedir que levassem alguns passageitos, consoante os lugares vagos que tivessem.

Isto vai demorar algum tempo, pensei para os meus botões. Se os outros autocarros vierem tão cheios quanto o nosso... isto vai demorar algum tempo.

E para complicar um bocadinho as nossas matemáticas: segundo fui informado em Mendoza, esta estrada está em obras no lado chileno, por isso a fronteira agora está aberta apenas num sentido: Argentina-Chile de manhã, Chile-Argentina à tarde.

Se não conseguirmos boleia até à hora de almoço, ficamos aqui até amanhã de manhã.

Daqui a pouco publico o resto...

3 comentários:

kyta disse...

Trágico-Comédia Andina....
Depois da esburacada paisagem, só faltava mesmo essa.
Igual sensação tive mas desta feita no Nepal.... no meio de nada... e com trânsito suicida!
Deixa lá.... melhores dias virão! Contingências...
El Rápido, nom????

kyta disse...

Esperamos pelo resto e que não seja a noite dentro do "El Rápido"....

agrades disse...

Aventura, é isto mesmo...
Conheço a dureza dos Andes, especialmente na zona do Perú:alto, seco, solitário, poeirento, mas sem avarias rodoviárias.