É um mundo pequeno quando estás sentado na tua cama, numa camarata de doze camas na Lituânia, à espera que a pessoa que está a tomar banho se despache, para ires à casa-de-banho... e quando a porta se abre, sai de lá o chileno que conheceste duas ou três semanas antes, na Rússia.
Mas vamos por partes.
Este episódio aconteceu há dez anos, para ser mais concreto. E se o venho "desenterrar" agora é porque neste momento de
despedida - que de certa forma completa um ciclo - não consigo evitar
lembrá-lo.
O Rodrigo diz que foi em S. Petersburgo, eu tenho a sensação
que foi em Moscovo... mas seja-qual-for a cidade em que nos conhecemos, lembro-me bem que na
televisão do hostel e na conversa de todos os backpackers estavam os temas
quentes do dia: um soldado americano recém-resgatado das forças de Saddam Hussein; e um
incêndio na Torre Eiffel, que ninguém sabia se era atentado ou acidente.
Este novo mundo pós 11 de Setembro era ainda uma novidade,
um choque, um trauma. E foi num ambiente de discussão, opinião e reacção que
conheci o Rodrigo, um chileno de Santiago que tinha acabado o curso de Direito e tinha vindo para a Europa viajar, apesar dos perigos profetizados pela avó, para quem os europeus eram todos "porcos, comunistas ou maricas".
Estávamos em 2003, portanto. O mundo distraído com a Guerra do Golfo, Portugal a preparar.-se para o Euro, eu a dar uma Volta ao Mundo que acabou por ser só
Meia-Volta, e o Rodrigo ia fazer a Rota da Seda... que acabou por ser só Meia-Rota.
Passámos a tarde a discutir o mundo inteiro, os nossos países,
as nossas cidades e nós próprios. Descobrimos semelhanças culturais e curiosas diferenças - e porque parados não íamos a lado nenhum, fomos passear
pela cidade e no dia seguinte cada um seguiu o seu caminho. Ainda não havia
facebook nem redes sociais, o roaming era um luxo - por isso trocámos e-mails e
até um dia destes.
Voltei para Helsínquia, onde tinha a minha mochila; o chileno ia para a Ásia Central, ou estava a voltar da Ásia Central, não me lembro.
Mas cada um seguia com a sua viagem, por isso não combinámos mais nada, quem sabe um dia, és bem-vindo em Portugal, és bem-vindo no Chile, prazer em conhecer.
Depois da Finlândia viajei uma semana na Estónia, outra na
Letónia... e eis que uma bela manhã, estava eu sentado na minha cama... é um mundo pequeno, não é?
Também estavas a dormir neste quarto?!
Resumindo: fomos dar uma volta e acabámos por viajar duas
semanas juntos pela Lituânia e Polónia, cimentando uma amizade que - quem diria!
- resistiu ao tempo, à distância e às voltas e reviravoltas da Vida.
Entretanto o Rodrigo foi estudar para Heidelberg e,
cinco-anos-depois dessas primeiras aventuras, veio a Portugal com uma namorada alemã
e o filho dela. Eu tinha voltado recentemente da viagem de bicicleta a Dakar. Ficaram uma semana comigo em Lisboa, passeámos por Sintra, relembrámos
histórias antigas e prometemos manter contacto, como sempre. Afinal de
contas: o mundo é pequeno e ainda nos vamos encontrar por aí, além de que eu
estava a planear viajar na América do Sul... no Próximo Ano.
Mas todos os anos eu ia adiando esta viagem para o Próximo Ano...
até que chegámos a Hoje.
Hoje: cinco-anos-depois desses cinco-anos-depois, foi a minha
vez de visitar o Chile. Finalmente! Esta semana passada em casa do Rodrigo foi
uma mistura de nostalgia, novidades e planos. Conhecemos e "apaixonámo-nos"
pela sua namorada Daniela, passeámos intensivamente por Santiago e arredores,
experimentámos petiscos e recantos da capital chilena, fizemos até um jantar
indiano e, claro está: conversámos, conversámos, conversámos... e por todo este
tempo bom, porque a amizade deve ser celebrada e acarinhada: muito obrigado,
Rodrigo!
E porque o mundo é mesmo pequeno: que não seja preciso esperarmos mais 5 anos, amigo!
4 comentários:
Aqueles que passam por nós, não nos deixam sós, deixam um bocadinho deles, levam um bocadinho de nós.
Foi um bonito reencontro, sem dúvida!
A amizade é uma coisa LINDAAAA
Não há coincidências....
Enviar um comentário