De Colónia del Sacramento apanhámos o ferry para Buenos Aires. Desta vez não reparei no nome - desculpem-me a falha, mas estava demasiado horrorizado com a antologia de telediscos da Celine Dion que passavam na televisão do barco. Que longa carreira tem a senhora. Longa e dolorosa, a avaliar pela intensidade e frequência com que grita, chora e baixa os olhos de forma dramática.
E as poses. As poses!
Tive a sensação que a viagem demorou o dobro daquela que nos trouxe para o Uruguai - mas se calhar foi só isso, foi só uma sensação.
Chegámos à capital argentina: o barco atracou junto a La Boca, tínhamos planeado apanhar o autocarro mas acabámos por atravessar meia cidade a pé, desviando-nos a custo dos cocós dos cães escondidos entre as folhas de Outono, mas apaixonados por cada porta, por cada esquina, cada grafitti. Esta cidade é feita de cores, de estímulos, de sensações e reacções.
Apanhámos as mochilas grandes, que tinham ficado à nossa espera em casa do Álvaro e da Marta; jantámos com os nossos anfitriões e depois seguimos para o terminal de autocarros, onde comprámos um bilhete para Mendoza... pela módica quantia de oitenta (oitenta!) euros. Doze horas de viagem - uma fortuna. E era o bilhete mais barato.
Rasgámos uma noite feita de trovoada, relâmpagos e explosões. O espectáculo à nossa volta tinha tanto de assustador como de mágico - e apesar do conforto dos bancos reclináveis, do autocarro quase vazio e dos filmes de acção que passavam na televisão, foi difícil abstrair-nos dos raios de luz a cair no horizonte, dor arquipélagos de nuvens a iluminar-se de branco em redor da estrada. Lá fora a chuva caía em pesados pingos na janela, mas cá dentro o Bruce Willis saltava de carros em andamento, fazia explodir isto-e-aquilo, safava-se dos mauzões e "salvava o dia", como bom herói que é.
Adormecemos, eventualmente. E quando acordámos de manhã, a pesada paisagem de nuvens no céu azul não prometia o melhor dos dias - mas sempre fez umas boas fotografias. Chegámos finalmente a Mendoza e telefonámos a um amigo do Álvaro, que ia ser o nosso anfitrião por uma noite. Gostávamos de ficar mais tempo, mas temos que nos despachar e seguir viagem, ainda há muito que explorar.
4 comentários:
Pois é... Sempre a andar, quer faça chuva quer faça sol!!!
Mas sempre, sempre com muito humor!!!
E este último céu está um espanto... Nem se notam as manchas da objectiva! ;)
Fez-me lembrar uma aterragem em Buenos Aires, no meio de uma trovoada de criar bicho...Uma faísca apanhou-nos e, o meu marido que ia a dormir, disse-me: que aterragem dura!, mas não era aterragem, ainda estávamos no ar...
Tudo isto faz parte das viagens.
OS ESPECTACULOS DA NATUREZA SÃO ASSUSTADORAMENTE FASCINANTES PARA OS HUMANOS DESDE O PRINCIPIO DOS TEMPOS
Carote a viagem para esse País... Não admira que fosse quase vazio...
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