29/04/2013

ASCENÇÃO... E QUEDA

Confesso que hoje custou-me mais a acordar. Estava escuro, lá fora - e frio, dentro do quarto - quando o despertador tocou, pouco depois das seis e meia da manhã. Saímos da camarata de fininho, para não acordar ninguém; mas pouco depois, enquanto arrumávamos as mochilas na sala, começaram a aparecer outros madrugadores. Quase sem darmos por isso, eram quase sete e meia - o plano inicial era arrancarmos às sete - e como o pequeno-almoço começava a ser servido a essa hora... perdido por cem, perdido por mil eheh.

Comemos ao som de Def Leppard (eles gostam mesmo destas pérolas), deixámos as mochilas na recepção e fomos os primeiros a sair para a caminhada, ainda o sol estava a aparecer no horizonte. O céu estava limpo, sem uma única nuvem - e se assim continuasse o resto do dia, bem que podíamos agradecer aos deuses, ou à sorte, a peripécia de ontem.

O nosso objectivo para hoje era subir até ao posto de observação, descer novamente até ao refúgio, pegar nas mochilas e avançar para o segundo refúgio, que fica "a meio do W". Tínhamos as reservas feitas e queríamos mantê-las, porque não sabíamos se nos cobravam mais por alterar. Sim: era um plano ambicioso, mas estávamos confiantes. Os quilómetros de ontem ainda não pesavam muito, o entusiasmo continuava o mesmo - e o tempo, pelos vistos, parecia querer ajudar.

Eram oito da manhã quando arrancámos. Desta vez, no caminho certo. E que caminho. Sempre a subir, passando por paisagens maravilhosas - montanha, floresta, rios - e sempre bem assinalado.

E o tempo: que dia!

Durante a subida, ia mais preocupado com o Bunty, que se queixava um pouco. Abrandámos um bocado o ritmo porque ele estava mais cansado, eu carregava a mochila com a comida, nas subidas; e ele nas descidas. Mesmo assim, conseguimos um bom ritmo, parando apenas para beber água e descansar, tirar algumas fotos... foi um belo passeio. Por momentos acreditei que o Bunty não ia subir a última parte, mas a vontade de ver as Torres era tanta, e o sorriso das pessoas que desciam a montanha, depois de terem assistido ao nascer-do-sol com aquele céu imaculado... tínhamos de subir os dois.






Assim foi: a última fase é a mais complicada, porque é mais a pique, mas nada de extraordinário. O caminho é óptimo, bem marcado, e mesmo quando desaparece todo o tipo de vegetação e o caminho se faz nas rochas - até aí se faz bem.


E quando chegámos...

Quando chegámos: o que dizer. Como descrever, em palavras, tudo aquilo que uma pessoa sente quando vê tal quadro?

Já tinha visto fotos na net - e partilho aqui as minhas, também. Mas peço desculpa: só mesmo ao vivo. E quem já lá foi e teve a sorte de as ver, sabe do que estou a falar. A harmonia entre as Torres e o lago em frente, a neve a salpicar a paisagem, a dimensão de tudo, a insignificância de cada um de nós. E, neste dia maravilhoso: o céu azul, sem uma única nuvem, o sol a sorrir.

Ainda bem que nos perdemos ontem. Ainda bem que fomos pelo caminho errado. Se tivessemos vindo aqui ontem, teríamos feito toda a ascenção debaixo de chuva e vento e frio... e o céu estaria tão carregado de nuvens, cá em cima, que provavelmente nem víamos nada.

E hoje: além do céu azul, chegámos cedo - e chegar cedo quer dizer que não há mais ninguém. No mirador, estávamos nós os dois e uma família de três, e um grupo de quatro amigos. Pouco depois chegou um homem sozinho, e depois mais três pessoas. Durante a meia hora em que nos sentámos a contemplar, a tirar fotos, a passear junto ao lago, não havia quase ninguém ali.

Quando finalmente começámos a descer, passaram por nós, durante a primeira fase do percurso, cerca de setenta pessoas. Do que nos safámos! ;)

Vínhamos radiantes, cheios de confiança, contávamos estar lá em baixo por volta das três e meia da tarde - mesmo que saíssemos para o segundo refúgio às quatro, e mesmo que demorássemos quatro horas a lá chegar, estava óptimo. Às oito da noite ainda há alguma luz - com este ritmo, estamos bem.

Só que de repente... e há sempre um "de repente"... porquêêê?!!!

Já tinha sentido algumas dores no joelho esquerdo, muito ligeiras, nada que me chateasse muito. Mas a confiança no ritmo era tanta que, a certa altura, desviei-me (sem querer) do caminho e foi preciso saltar de um pequeno monte para voltar à "origem". Cerca de um metro de altura, nada de especial, e quando "aterrei" nem sequer senti dor nenhuma...

...nada de especial - mas pouco depois, as dores no joelho começaram a ficar insuportáveis. Custava-me a dobrar, custava-me a esticar... nunca senti nada assim, e já fiz trekkings mais difíceis.

Parámos junto ao refúgio a meio do caminho, para aplicar um pouco de tiger balm e descansar um bocado. E agora? Isto tem de melhorar. Fazer o resto do trekking assim vai ser um pesadelo, para além de nos baixar o ritmo. Será que vou conseguir descer até ao primeiro refúgio? Tenho que descer - claro que vou descer. Mas será que ainda o vamos fazer a tempo de cumprir o nosso objectivo, e continuar para a próxima paragem, em Los Cuernos? E se não conseguirmos - se demorarmos muito tempo -, será que nos deixam alterar as reservas?

3 comentários:

Clara Amorim disse...

Um deslumbramento, de facto...!
E sim, Jorge, muito optimismo que tudo se vai resolver!!!
As melhoras desse joelho!

Anónimo disse...

TORRES DEL PAINEEEEEEEEE
K saudades, é um dos meus lugares favoritos.......

kyta disse...

Excelente local e excelentes fotos!