26/04/2013

PARTIDA, LARGADA...

O autocarro veio buscar-nos ao hotel, ainda o sol não tinha nascido, e enquanto o céu ganhava cores de inferno, andámos às voltas por Puerto Natales, a "apanhar" outros turistas. Aproveitámos para "estudar" o tipo de pessoas que vinham para o parque, o que vestiam, quanto carregavam - e apercebemo-nos que:

1. as nossas mochilas vêm muito cheias. Há pessoas que praticamente não trazem nada, de certeza que fazem as refeições todas nos refúgios. O peso é inimigo do conforto, e apesar de não virmos exageradamente carregados, é óbvio que podíamos ter vindo mais leves.

2. apesar de haver muita gente bem equipada, outros parecem vir muito descontraídos, e há até quem pareça vir menos bem preparado que nós. Menos mau: não há razão para alarme.

Mas isto de comparar a nossa galinha com a da vizinha, vale-o-que-vale. Cada pessoa é um caso, é uma história, uma experiência. E a nós interessa-nos que nos corra bem, o passeio. Não quero saber se a experiência é melhor ou pior que a dos outros, se vamos mais equipados ou não, mais carregados ou menos. Desde que corra bem.

Apesar do entusiasmo e do condutor nos brindar com uma banda sonora de clássicos como "Africa" e "Road to Nowhere", acabámos por adormecer. A viagem até ao parque demora cerca de duas horas, e lembro-me de acordar três ou quatro vezes e espantar-me com a paisagem inóspita de lagoas e rochedos, sempre com as montanhas em pano de fundo. Lembro-me também de ver avestruzes à beira da estrada - e guanacos (um animal de pescoço comprido, parecido com o lama). Mas dormi, a maior parte do tempo.

Quando chegámos à entrada do parque, um voluntário entrou no autocarro para explicar algumas regras e chamar a atenção para os perigos de fazer fogueiras. Contou-nos que há dois anos, um incêndio consumiu quase metade da área do parque. Agora é proibido fazer fogo em qualquer circunstância, e as multas para quem não cumprir as regras são pesadas. Depois, outro voluntário desafiou os turistas a ficarem mais um dia no parque, para ajudar a plantar árvores novas - mas ninguém pareceu muito entusiasmado.

Depois de comprarmos os bilhetes fomos encaminhados para uma sala, onde assistimos a um video de sensibilização - surpresa: contra incêndios -, em que uma voz de locutor espanhol de documentário voltou a descrever as regras do parque e insistiu no problema dos fogos florestais. Mais tarde, em conversa com uma francesa, ficámos a saber que depois de um primeiro incêndio há alguns anos, causado por um suíço, em 2011 um israelita ignorou todos os avisos e fez uma fogueira... que resultou no maior incêndio da história do parque.

Mas voltando à nossa aventura: mudámos para outro autocarro, e no momento em que estávamos a arrancar para os 7km finais até ao refúgio, o condutor do primeiro autocarro apareceu a correr com um volume na mão... alguém se tinha esquecido de alguma coisa... ups... era a bolsa onde eu guardo a minha máquina fotográfica - com a respectiva, lá dentro! Nem queria acreditar na distracção (não que seja completamente atípico, mas há muito tempo que não me acontecia uma destas).

Arrancámos. À nossa frente, montanhas e nuvens. E de repente: um arco-íris. No exacto momento em que arrancámos para o refúgio: um arco-íris.

Isto só pode ser bom sinal.

 

2 comentários:

Clara Amorim disse...

Que belo começo... à parte o incidente com a máquina, claro!!!
Estou certa de que este arco-íris vai ser o vosso anjo da guarda durante todo o trekking!!!

kyta disse...

Máquina esquecida? Foi de dormires com uma paisagem dessas.....