Já repararam? Claro que já repararam.
É impossivel não reparar: os Taxistas de Aeroporto são, regra geral, de uma desonestidade inabalável. Nisso há que dar-lhes crédito. A sinceridade com que se ofendem se não nos deixamos enganar, a verticalidade na trafulhice - podia passar o dia a contar histórias acerca das minhas experiências com Taxistas de Aeroporto; podia iniciar aqui um tag e abrir a discussão ao público - mas contento-me com a noite de ontem. Com as duas histórias de ontem.
Por agora partilho a História Número Um:
Quando fui buscar o segundo viajante ao aeroporto, que chegava às 02:30 a Moscovo, apanhei o último comboio aeroexpress. Ou seja: já sabia que ia ter de voltar de táxi. Assim que cheguei ao aeroporto fui ao balcão dos taxis pré-pagos, expliquei que só devia sair às três da manhã e perguntei quanto seria um táxi para o Cosmos Hotel.
"Mil e oitocentos rublos."
Concerteza. A senhora até me explicou que provavelmente o balcão ia estar fechado, mas alguém estaria ali ao pé.
Três da manhã: chegou o Leandro. Eu estou a desesperar com a porcaria das lentes, os olhos a arder, o cansaço a vingar. Dirigimo-nos ao balcão, que está vazio, vem logo um senhor dizer que é da companhia, que vai ligar ao manager, etc. Tudo treta. Eu sei que ele não está ao telefone, quer apenas dar um ar profissional, já os topo a todos, depois de já ter vindo a este aeroporto esperar pelos viajantes dos grupos. Algumas caras até já conheço de outros anos, mas eles não sabem quem eu sou.
Adiante: depois do suposto telefonema aparece outro homem com uma postura muito profissional, com uma pasta cheia de papéis. Diz para o acompanharmos, eu digo que tenho de pagar primeiro (uma forma de saber quanto querem cobrar, sem realmente perguntar quanto é), mas ele diz que sim, mostra-me uns recibos e manda avançar para o parque.
Mas eu daqui não saio, daqui ninguém me tira. Não enquanto não souber quanto vai custar a corrida.
Insisto, ele ignora.
Insisto, ele mostra-me os recibos "oficiais" mas não me diz quanto é.
Insisto mais uma vez e ele lá reage. Abre a pasta com um ar de frete, desvalorizando o gesto, como se fosse o pormenor mais irrelevante para ele. Mostra-me uma tabela com um ar oficial (tu não me enganas, Vladimir, já te conheço as manhas) e com o dedo procura o preço... são cinco mil e trezentos rublos. Vamos embora.
Ai não vamos, não.
Eu rio-me e recuso-me a avançar, digo-lhe que me pediram mil e oitocentos e que não pago nada que se aproxime ao valor que ele me pede.
"Mas estas são as tarifas oficiais!", afirma ofendido, como se eu o tivesse insultado.
"Azar, taxis há muitos, Vladimir, boa noite e boa sorte."
"Ok, dois mil rublos e não se fala mais nisso."
Assim. Sem discussão nem regatear. E porque eram três da manhã e eu não estava com disposição para ginásticas, aceitei. O senhor levou-nos à porta e indicou-nos ao nosso driver: uma senhora de quarenta anos, muito franzina e com um ar frágil, que sorriu muito timidamente e agarrou-se à sua carteira que era quase maior que ela. Fomos até ao seu carro... hmmm... talvez seria melhor chamar-lhe nave espacial - porque fomos praticamente a voar até ao hotel.
Já agora: cinco mil e trezentos rublos são cerca de cento e vinte euros. E já ouvi falar de taxistas que pedem ao turista oito mil rublos! Incrível.
Quanto à História Numero Dois, fica para daqui a pouco - estou a escrever no telefone e já me doem os polegares ;)
1 comentário:
Eles não sabem com quem estão a lidar...! ;)
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