05/06/2014

O REGRESSO À "NORMALIDADE"

Apesar de estar sempre ao corrente da situação na Tailândia - seja a partir dos meios de comunicação na internet, redes sociais ou de contactos no terreno - a verdade é que não tenho dedicado muita atenção ao tema aqui no blog.

E tendo em conta que tenho recebido várias mensagens a pedir dicas e informação sobre o que se está a passar na realidade, e o impacto que tudo isto tem para o turista: está na hora de fazer um refresh, portanto.

Lei Marcial, Golpe de Estado, Recolher Obrigatório: que pesado conjunto de letras, com maiúsculas a sugerir que "somos Palavras Importantes", como se não bastasse a sua tradução no dia-a-dia, em sentido prático.

Não vai bem, a Tailândia?

Não vai muito bem há muito tempo, essa é que é a verdade. Anda o país num longo pingpong entre governos e contestação, entre conformismo e diz-que-disse; e entretanto os turistas entram e saem, deitam-se a torrar na praia, fazem massagens, rezam aos budas. Como se nada fosse.

Não podia ser para sempre, esta simulação de um final feliz. Este frágil equilíbrio entre Normalidade e "Normalidade". Um dia alguém haveria de "chocalhar" a coisa. Porque é mesmo assim que a História acontece. E foi o que aconteceu agora.

Lembro-me de em Janeiro último já se falar no Golpe Militar, quando estive em Bangkok para o Shutdown. Muita gente defendia que era a única solução para um problema cada vez mais complexo.

Se é ou não: quem sou eu para julgar isso. Mas que dá a sensação...

Há males que vêm por bem?

Só o tempo o dirá.

E até lá. Até lá, a vida continua.

Se há povo que sabe transformar os nós da História num colorido laço, é o Tailandês.

Passaram duas semanas desde que os militares tomaram conta do país - e apesar da situação política continuar muito frágil e não haver uma resolução prática e duradoura à vista, o facto é que uma certa "Normalidade" se começa a instalar no dia-a-dia das pessoas, dos lugares, do tempo.

Vai um selfie com os militares? Concerteza.

O Recolher Obrigatório mantém-se, é verdade. Mas enquanto nos primeiros dias funcionava das dez da noite às cinco da manhã - agora foi reduzido, é só da meia-noite às quatro. E na passada terça-feira foi completamente levantado em Phuket, Koh Samui e Pattaya, os principais destinos de turismo da Tailândia.

Em Bangkok, a vida continua como tem de ser. A presença do Exército na rua é mínima, há quem afirme que não avistou um único militar desde o golpe de 22 de Maio. É verdade que se vê um ou outro protesto, de vez em quando, mas são coisas pontuais.

Os centros comerciais estão abertos, tal como todas as lojas, restaurantes, bares, casas de massagens, bombas de gasolina, embaixadas, escritórios e serviços. Alguns adaptaram os seus horários, por causa do recolher obrigatório - mas ninguém fechou portas.

As estradas e auto-estradas estão todas abertas - há trânsito, como de costume. Os transportes públicos, o skytrain, o metro, os barcos no Chao Phraya. Tudo igual. Os aeroportos funcionam normalmente, não há voos cancelados ou alterados. Até os táxis funcionam 24 horas por dia, desde que os passageiros se façam acompanhar de um print do seu bilhete de avião, para provar que aterraram ou levantam voo a horas "proibidas".

Nos primeiros dias, todos os canais de televisão e rádio foram obrigados a transmitir mensagens dos militares - mas neste momento retomaram as suas emissões e funcionam normalmente. Reality shows e telenovelas, concursos e filmes, documentários, noticiários e publicidade. Ninguém diria, pela programação, que se vive um momento tão "delicado" da História.

"The show must go on", já cantava o Freddie Mercury.

E é mesmo assim. A Conselho Nacional para a Paz e Ordem já fez saber que não vai convocar eleições para este ano, é preciso primeiro estabilizar e reformar as instituições e o país, encontrar compromissos numa espécie de reconciliação nacional - só então se poderá pensar Democracia.

Algumas agências militares abriram ou vão abrir perfis no Facebook e no Twitter, para promover a comunicação nas redes sociais. Há uma tentativa clara - e assumida - de aproximação às pessoas, de ser (ou parecer, não interessa) transparente. Há um trabalho intenso e sincero de Relações Públicas. Foi anunciado um período de dois meses para discussão pública dos problemas do país. Qualquer cidadão, em teoria, poderá apresentar soluções, ideias, sugestões. É uma espécie de brainstorming nacional.

Isto há-de passar.

Isto há-de ter o seu Final Feliz.

4 comentários:

Pedro Raposo disse...

Obrigado pelas dicas!
Eu e uns amigos estamos a pensar em ir passar um mês na Indochina, incluindo a Tailândia, durante o mês de Agosto. Realmente parece estar tudo calmo para turistas, o que são boas noticias.
Não consigo encontrar informações em lado nenhum sobre se os comboios nocturnos, tanto para Chiang Mai como as ilhas, estão a funcionar sem alterações, devido ao recolher obrigatório. Sabes onde se pode obter esta informação?

Jorge disse...

Olá Pedro,
Realmente aí está uma coisa que não te posso responder... não faço ideia. Mas é muito pertinente. Os comboios estão a funcionar, isso eu sei. Vou ver se descubro, de qualquer forma tenta também no www.seat61.com ou em foruns de viagem.

Jorge disse...

Olá outra vez, Pedro
Só para te dizer que os comboios estão a funcionar a 100%. Falei com alguns contactos "no terreno", dois confirmaram-me que não há interrupções no serviço, por isso não tens que te preocupar :)
Boa viagem!

Pedro Raposo disse...

Muito obrigado pela informação! Bom Transiberiano!