30/06/2014

HÁ MALES QUE VÊM POR BEM

"Esquece", disse finalmente ao Hugo, um dos últimos resistentes do grupo do Transiberiano. "Vamos para Qianmen, no livro diz que há outras lojas lá. Aqui não vamos a lado nenhum."

Estávamos há uma hora às voltas na mesma rua, na rua em frente e na outra ao lado.

O Hugo tinha ficado mais um dia, depois da grande parte do grupo ter voltado para Lisboa - e a nossa ideia era passar o dia a pedalar por Pequim. O dono da minha guesthouse tinha-nos recomendado um sítio onde alugavam bicicletas, mMas não encontrávamos bicicletas nenhumas. Perguntámos ao senhor do quiosque, ao segurança do centro comercial, à senhora das flores, a três rapazes que passavam com uma bola de basquete, a um grupo de velhotes, ao porteiro de uma garagem... e nada. Algumas pessoas apontavam para ali, outras para acolá, a maioria não percebia nada do que dizíamos, ou não queria perceber.

Desistimos.

Enfiámo-nos no Metro e gozámos o ar condicionado. Depois de uma hora às voltas debaixo de um calor abrasador (céu limpo e subida da temperatura máxima, dizia o boletim meteorológico) - podem imaginar como nos soube bem.

Qianmen. Saímos para a rua, tomámos um café, andámos mais um bocadinho e no primeiro sítio onde era suposto haver uma loja de bicicletas, havia uma loja de chás. Este guia já está um bocadinho desactualizado.

Mas:

É já ali, mostraram-nos vários dedos apontados, quando perguntámos onde se podiam alugar bicicletas.

E era. Já ali. Ao fundo da rua, depois do restaurante onde duas noites antes tínhamos comido um "pato à pequim" delicioso e uma carne de burro surpreendentemente boa, também.

BIKE RENTAL, dizia um cartaz à porta de uma loja de souvenirs.

ELECTRIC BIKE RENTAL, dizia outro cartaz em baixo.

"E que tal se fossemos numa destas eléctricas?", sugeriu o Hugo.

E porque não?, pensei. E assim foi. Pagámos o aluguer e deixei o passaporte como caução, a senhora garantiu-nos a pés juntos, com uma expressão quase-ofendida quando insistimos, que as baterias estavam cheias. Deu-nos um mapa e avisou que só podíamos ir até ao perímetro da Segunda Circular (Pequim tem cinco). Sim, senhora!

E assim começou um "daqueles" dias.

A manhã quase toda a serpentear por hutongs (bairros tradicionais) e lagos, a negociar semáforos vermelhos quando não vinha ninguém, a atravessar pelas passadeiras porque scooters e bicicletas em Pequim têm estatuto quase de peão. Sentidos proibidos, sinais vermelhos, inversões de marcha - desde que haja respeito e cuidado, pode ser.

Ao fim da manhã parámos num hutong ao pé da Drum Tower e descobrimos um rooftop à sombra das árvores, que agradável surpresa, que cerveja fresquinha. O dia estava especialmente quente - ainda bem que trocámos os pedais pelo acelerador, nem quero imaginar o que teríamos sofrido numa bicicleta tradicional.


Lá está: há males que vêm por bem. Não encontrámos as bicicletas de manhã, perdemos uma hora às voltas... mas por causa disso acabámos na loja de souvenirs a alugar duas scooters eléctricas. E não podia ter sido melhor.

Almoçámos num "buraco" perto do Beihai Park que servia umas asas de frango com molho picante "secreto", entre outras iguarias. E já de barriga cheia fomos atrás de alguns prédios emblemáticos da nova arquitectura de Pequim. Que descoberta boa! O "ovo", as "cuecas", entre outros.





Já no final do dia, quando começávamos a voltar para Qianmen, a minha mota de repente deixou de funcionar. A bateria tinha acabado. E estávamos no ponto mais longínquo do dia... quinhentos metros depois da Segunda Circular.

E agora?! ;)

1 comentário:

Clara Amorim disse...

Belas fotos...!