"Esquece", disse finalmente ao Hugo, um dos últimos resistentes do grupo do Transiberiano. "Vamos para Qianmen, no livro diz que há outras lojas lá. Aqui não vamos a lado nenhum."
Estávamos há uma hora às voltas na mesma rua, na rua em frente e na outra ao lado.
O Hugo tinha ficado mais um dia, depois da grande parte do grupo ter voltado para Lisboa - e a nossa ideia era passar o dia a pedalar por Pequim. O dono da minha guesthouse tinha-nos recomendado um sítio onde alugavam bicicletas, mMas não encontrávamos bicicletas nenhumas. Perguntámos ao senhor do quiosque, ao segurança do centro comercial, à senhora das flores, a três rapazes que passavam com uma bola de basquete, a um grupo de velhotes, ao porteiro de uma garagem... e nada. Algumas pessoas apontavam para ali, outras para acolá, a maioria não percebia nada do que dizíamos, ou não queria perceber.
Desistimos.
Enfiámo-nos no Metro e gozámos o ar condicionado. Depois de uma hora às voltas debaixo de um calor abrasador (céu limpo e subida da temperatura máxima, dizia o boletim meteorológico) - podem imaginar como nos soube bem.
Qianmen. Saímos para a rua, tomámos um café, andámos mais um bocadinho e no primeiro sítio onde era suposto haver uma loja de bicicletas, havia uma loja de chás. Este guia já está um bocadinho desactualizado.
Mas:
É já ali, mostraram-nos vários dedos apontados, quando perguntámos onde se podiam alugar bicicletas.
E era. Já ali. Ao fundo da rua, depois do restaurante onde duas noites antes tínhamos comido um "pato à pequim" delicioso e uma carne de burro surpreendentemente boa, também.
BIKE RENTAL, dizia um cartaz à porta de uma loja de souvenirs.
ELECTRIC BIKE RENTAL, dizia outro cartaz em baixo.
"E que tal se fossemos numa destas eléctricas?", sugeriu o Hugo.
E porque não?, pensei. E assim foi. Pagámos o aluguer e deixei o passaporte como caução, a senhora garantiu-nos a pés juntos, com uma expressão quase-ofendida quando insistimos, que as baterias estavam cheias. Deu-nos um mapa e avisou que só podíamos ir até ao perímetro da Segunda Circular (Pequim tem cinco). Sim, senhora!
E assim começou um "daqueles" dias.
A manhã quase toda a serpentear por hutongs (bairros tradicionais) e lagos, a negociar semáforos vermelhos quando não vinha ninguém, a atravessar pelas passadeiras porque scooters e bicicletas em Pequim têm estatuto quase de peão. Sentidos proibidos, sinais vermelhos, inversões de marcha - desde que haja respeito e cuidado, pode ser.
Ao fim da manhã parámos num hutong ao pé da Drum Tower e descobrimos um rooftop à sombra das árvores, que agradável surpresa, que cerveja fresquinha. O dia estava especialmente quente - ainda bem que trocámos os pedais pelo acelerador, nem quero imaginar o que teríamos sofrido numa bicicleta tradicional.
Lá está: há males que vêm por bem. Não encontrámos as bicicletas de manhã, perdemos uma hora às voltas... mas por causa disso acabámos na loja de souvenirs a alugar duas scooters eléctricas. E não podia ter sido melhor.
Almoçámos num "buraco" perto do Beihai Park que servia umas asas de frango com molho picante "secreto", entre outras iguarias. E já de barriga cheia fomos atrás de alguns prédios emblemáticos da nova arquitectura de Pequim. Que descoberta boa! O "ovo", as "cuecas", entre outros.
Já no final do dia, quando começávamos a voltar para Qianmen, a minha mota de repente deixou de funcionar. A bateria tinha acabado. E estávamos no ponto mais longínquo do dia... quinhentos metros depois da Segunda Circular.
E agora?! ;)
1 comentário:
Belas fotos...!
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