16/11/2013

E DE REPENTE... ;)

Ontem jantámos num dos meus restaurantes preferidos de Saigão: chama-se 3T e serve um barbeque vietnamita... de chorar. Fica no rooftop de um prédio de três andares e está sempre cheio. As mesas têm por baixo uma bilha de gás, no centro uma grelha e a carne é servida crua, mas temperada - e cada um cozinha a seu gosto.

Pedimos rolinhos de vaca com queijo e cebola, bifinhos de veado com cinco especiarias, javali com erva-príncipe e chilli... e como depois disto tudo ainda nos apetecia mais qualquer coisinha, uns bifinhos de vaca pincelados com mel. Que delícia - tanto que nem me lembrei de tirar uma foto. Enfim.

Mas o propósito maior deste post nem sequer o jantar. É o "depois".

Já a rebolar pela rua, e com um cheiro impregnado na roupa pouco indicado a quem queira causar boa impressão na noite: resolvemos ir dar um pézinho de dança. Cinco resistentes e eu: a andar pelas ruas da mítica Saigão, na direcção contrária do hotel e das ruas recheadas de bares de meninas, onde rapazes passam de bicicleta a chocalhar umas caricas, a anunciar massagens. Fomos na direcção de uma das discotecas mais conhecidas de Saigão: o Apocalypse Now.

O Apocalypse Now não é propriamente uma novidade, para mim. Mas quando entrámos estava tão calmo, que quase duvidei se estava no sítio certo. A disposição das salas tinha mudado ligeiramente, havia mesas vazias com garrafas de vodka gigantes, iluminadas, e papelinhos a dizer "reserved". Gente a jogar snooker, algumas pessoas a circular... mas calminho, a música nem sequer era do DJ, mas de qualquer coisa que se passava lá fora. Decidi espreitar.

No pátio das traseiras havia um palco montado, onde um homem de fato e microfone anunciava qualquer coisa. Estava cheio de gente a beber e a comer, empregados a andar de um lado para o outro... private party, disse-me o porteiro ao barrar-me a entrada. Members only.

Entretanto apareceram umas modelos e o palco transformou-se em passerelle, com uma música género Enigma, só faltava uns suspiros sensuais a acompanhar... as pessoas bateram palmas e o apresentador regressou ao palco, histérico... que pontaria... que noite para vir aqui.

Pedimos umas cervejas e pagámo-las com os últimos dong. Já só tínhamos dólares, a partir daí - e apesar de os aceitarem para pagar mais bebidas, percebemos que não íamos muito mais longe no que respeita a beber. Encostámo-nos a uma mesa junto ao snooker. Nas televisões passavam as imagens da festa lá fora, e a música era a mesma da festa. E quando tudo parava para o apresentador falar, era as suas palavras que ouvíamos. Que seca.

Já só me queria ir embora. E tinha "vendido" o Apocalypse Now como sendo "um sítio fixe".

"Está a ser muito divertida, esta noite no Bingo", disse enquanto o homem do microfone anunciava números de cartões, que seriam os vencedores disto e daquilo.

E eis que de repente...

Uma das raparigas sentadas na mesa ao nosso lado tinha um prato com comida, não percebi muito bem como mas o prato acabou por vir para a nossa mesa. Sorrisos e agradecimentos, entretanto a vietnamita meteu conversa com a Conceição - e qual não foi a minha surpresa quando esta se vira para nós e diz:

"Acho que ela nos consegue pôr na festa."

Dito e feito: a vietnamita levantou-se e levou a Conceição pela mão, para uma porta a um canto, que também dava acesso à festa. Vi-as falar com um segurança e desaparecer por instantes... e pouco depois olharam para nós e fizeram-nos sinal para avançar.

"Temos comida à borla", comentou uma das raparigas.

Mas eu olhei para o Nuno e trocámos um sorriso perigoso:

"Temos é bar aberto!"

E de repente!

Ahah. Assim de repente, do nada: o que parecia que ia ser uma noite de seca transformou-se numa festa muuuuuuito divertida. Nem sei bem como descrever. Só sei que na "nossa mesa" junto ao palco havia uma garrafa de vodka por abrir - bebemo-la, pois claro. Arranjámos um copo nesta mesa e outro noutra, gelo ao balcão, coca-cola noutra mesa... e bebemos. Bebemos. Bebemos. à ganância, parecíamos miúdos adolescentes, só porque era "à borla".

Quando a pista abriu já estávamos bem avançados - e apesar de estar a sala cheia, conseguimos um cantinho onde dançar. Só rir. Quem diria. Do bingo ao bar aberto foi um instante, um momento, um "de repente" que mudou tudo. Que bela noite.

Não voltámos muito tarde: mas voltámos felizes.

O pior foi hoje de manhã ;)

2 comentários:

Clara Amorim disse...

E de repente... uma crónica "penetra"!!! ;)

kyta disse...

Elas não matam mas moem!