Foi por um triz.
Vinte segundos - trinta no máximo! - e tinha chegado a tempo.
A provinitza percebeu,
assim que o vimos de telefone na mão a olhar para o comboio, aquilo que se tinha passado. Fez-me sinal que a seguisse, disse qualquer coisa que não entendi e levou-me com ela, a
correr, algumas carruagens mais à frente.
Eu: Já te ligo! Já te ligo! Acho que vamos tentar parar o comboio!
Mais à frente, fui apresentado à provinitza-chefe, que também não falava inglês. Parar o comboio? Fora de questão. Nem pensar nisso.
"O
que o seu amigo tem de fazer", pareceu ela dizer, "é apanhar um táxi
para a próxima estação, que se chama Não-Sei-Quê. Chegamos lá daqui a
quinze minutos e paramos cerca de vinte. Ele tem tempo. Ele que vá para a
rua e chame um táxi, depressa."
Expliquei a estratégia e repeti vezes sem conta o nome da estação: Não-Sei-Quê. Encontramo-nos lá.
Pouco
depois parámos em Não-Sei-Quê. Passaram-se cinco, dez, quinze minutos.
Onde está o Desaparecido? Daqui a pouco arrancamos outra vez.
Toca o telefone.
Eu: Estás onde? Isto vai arrancar não tarda!
Ele: Recusaram-se todos a levar-me. Pedem-me o bilhete do comboio, eu já
expliquei que está na carruagem. Recusam-se todos, não querem saber,
viram a cara para o outro lado, encolhem os ombros e ignoram-me.
Típico.
Eu: Ok, nesse caso vamos para o plano B. Tens de comprar um bilhete no próximo comboio a parar aqui, e que passe em Novosibirsk. Amanhã chegamos lá às cinco e meia da tarde e só arrancamos às onze da noite. Tens de chegar lá nesse intervalo de cinco horas. Caso contrário, só em Irkutsk.
E eis senão quando surge o anjo salvador desta aventura. Um médico russo que falava inglês. Expliquei-lhe a situação e ele tomou as rédeas imediatamente. Pediu ao meu cliente que passasse o telefone a alguém responsável da estação. Algum tempo depois, fez-me sinal a pedir uma caneta e um papel.
Caneta-e-papel, preciso de caneta-e-papel, quem tem caneta-e-papel.
Comboio Não-Sei-Quantos, Carruagem Não-Sei-O-Quê, chega a Novosibirsk às Tantas.
Obrigado, obrigado, obrigado!
Havia um comboio duas horas depois, em Yekaterimburgo, que chegava a Novosibirsk pouco mais de uma hora depois no nosso, no dia seguinte. Ele tinha dinheiro, telefone e o passaporte com ele. O que facilitou o processo, nem quero imaginar se fosse outra pessoa sem documentos, ou sem dinheiro... enfim. Menos mau.
Nós continuámos pela Rússia adentro, mais um dia-e-pouco até Novosibirsk, onde eu tinha programado uma paragem de cinco-seis horas para duche, jantar e dar umas voltas. Ainda bem.
O cliente que ficara em terra esperou mais duas horas na estação. Depois entrou noutro comboio e passou as vinte e quatro horas seguintes sozinho. Conheceu viajantes locais, trocou experiências, munido apenas de uma pequena mochila com a máquina fotográfica e pouco mais.
Encontrámo-nos no dia seguinte, na plataforma. Só sorrisos, desculpa lá a situação em que te coloquei, Jorge.
Sem stress. Já passou.
Mas desta não me vou esquecer tão cedo.
Consequência imediata: a partir de agora ninguém sai do comboio sem levar o dinheiro, o passaporte e o telefone. E massacro cada um individualmente, para que voltem para o comboio uns dez minutos antes deste partir. :)
1 comentário:
Ou isso ou então comprar umas trelinhas...! LOL
Líder Nomad às vezes também sofre...!
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