16/09/2014

MY FRIEND!


"My friend! Where are you from?"

É só amigos, no Cairo. Vêm ter connosco e convidam-nos para visitar a sua loja de perfumes, dão-nos dicas sobre o Museu do Cairo, visitas às Pirâmides, aconselham-nos contra estes-e-aqueles-outros, há até quem nos avise acerca de demonstrações ao fundo da rua, não vão por ali, can I help you, my friend.

Apesar de tudo, são menos chatos do que estava à espera, estes "amigos". Vinha preparado para manobras de desvio e estratégias de fuga, desculpas várias, conversa e até jás. Vinha preparado para o nível oito, saíu-me um nível dois, no máximo.

São, acima de tudo, curiosos - os egípcios. E se ao longo do dia fomos reparando nessa característica, foi ao final da tarde, quando subimos à Torre do Cairo para uma panorâmica incrível sobre a cidade (tão caótica quanto mágica), que nos apercebemos dessa extrema curiosidade. Toda a gente olhava, timidamente ao início, depois com mais alguma coragem. Vinham perguntar-nos de onde éramos, se estávamos a gostar do Cairo. Pediram para tirar fotografias connosco. Sorriam muito. E sem intenções de vender fosse-o-que-fosse. Interesse genuíno, pura curiosidade.


Começámos por dar uma volta no centro, pelas ruas à volta do hotel, em direcção à Praça El Tahrir, mundialmente famosa por ser o palco das manifestações e contra-manifestações que foram tema de telejornal durante meses a fio. A caminho almoçámos num restaurante chamado Estoril, um velho clássico com boa comida e serviço cuidado. Foi bom.

"My friend, can I help you?"

Não é preciso, sabemos para onde vamos. Mas não sabemos nada. Hoje queremos andar, só. Estou cansado da viagem, das noites mal dormidas, de quinze dias intensos a explorar a Turquia com dez pessoas - tenho mesmo de começar devagar. Felizmente, o Manel está no mesmo registo.

"My friend, come see my shop, you don't have to buy, just look."

Agora não, temos de ir ali. Passamos a Praça e o Museu côr-de-rosa, ao fundo o prédio que era a sede do partido do Mubarak, com a sua fachada ainda queimada, destruída, uma lembrança dos "tempos maus". Por todo o lado há mensagens escritas nas paredes, em arábico por isso não sei o que dizem, mas parecem-me protestos, gritos, desabafos. Há grafittis coloridos, criativos, perco-me a tirar algumas fotos.

E de repente: o Nilo e as suas margens cheias de hotéis enormes, metade estão fechados, mas o rio nem repara, o rio passa como sempre fez. 

Atravessamos a ponte para o outro lado, cuidado que há uma manif à frente, não ligamos e claro que não há nada. Paramos num jardim para ler um bocadinho o guia, para perceber o que há para ver, o que podemos fazer. E depois de mais umas voltas lá estamos num elevador com uma família egípcia, todos a sorrir mas sem dizer nada, a subir a Torre do Cairo.

Que vista!

E, ao fundo... pela primeira vez... 


2 comentários:

Clara Amorim disse...

Grande "retrato" este que fazes do Cairo... com todos os ingredientes!!!

lv disse...

Bela descrição, deve ser emocionante