"My friend! Where are you from?"
É só amigos, no Cairo. Vêm ter connosco e convidam-nos para
visitar a sua loja de perfumes, dão-nos dicas sobre o Museu do Cairo, visitas
às Pirâmides, aconselham-nos contra estes-e-aqueles-outros, há até quem nos
avise acerca de demonstrações ao fundo da rua, não vão por ali, can I help you,
my friend.
Apesar de tudo, são menos chatos do que estava à espera,
estes "amigos". Vinha preparado para manobras de desvio e estratégias
de fuga, desculpas várias, conversa e até jás. Vinha preparado para o nível
oito, saíu-me um nível dois, no máximo.
São, acima de tudo, curiosos - os egípcios. E se ao longo do
dia fomos reparando nessa característica, foi ao final da tarde, quando subimos
à Torre do Cairo para uma panorâmica incrível sobre a cidade (tão caótica quanto mágica), que nos
apercebemos dessa extrema curiosidade. Toda a gente olhava, timidamente ao
início, depois com mais alguma coragem. Vinham perguntar-nos de onde éramos, se
estávamos a gostar do Cairo. Pediram para tirar fotografias connosco. Sorriam
muito. E sem intenções de vender fosse-o-que-fosse. Interesse genuíno, pura
curiosidade.
Começámos por dar uma volta no centro, pelas ruas à volta do
hotel, em direcção à Praça El Tahrir, mundialmente famosa por ser o palco das
manifestações e contra-manifestações que foram tema de telejornal durante meses
a fio. A caminho almoçámos num restaurante chamado Estoril, um velho clássico
com boa comida e serviço cuidado. Foi bom.
"My friend, can I help you?"
Não é preciso, sabemos para onde vamos. Mas não sabemos
nada. Hoje queremos andar, só. Estou cansado da viagem, das noites mal dormidas, de
quinze dias intensos a explorar a Turquia com dez pessoas - tenho mesmo de
começar devagar. Felizmente, o Manel está no mesmo registo.
"My friend, come see my shop, you don't have to buy,
just look."
Agora não, temos de ir ali. Passamos a Praça e o Museu côr-de-rosa,
ao fundo o prédio que era a sede do partido do Mubarak, com a sua fachada ainda
queimada, destruída, uma lembrança dos "tempos maus". Por todo o lado
há mensagens escritas nas paredes, em arábico por isso não sei o que dizem, mas
parecem-me protestos, gritos, desabafos. Há grafittis coloridos, criativos,
perco-me a tirar algumas fotos.
E de repente: o Nilo e as suas margens cheias de hotéis enormes,
metade estão fechados, mas o rio nem repara, o rio passa como sempre fez.
Atravessamos a ponte para o outro lado, cuidado que há uma manif à frente, não
ligamos e claro que não há nada. Paramos num jardim para ler um bocadinho o
guia, para perceber o que há para ver, o que podemos fazer. E depois de mais
umas voltas lá estamos num elevador com uma família egípcia, todos a sorrir mas
sem dizer nada, a subir a Torre do Cairo.
Que vista!
E, ao fundo... pela primeira vez...
2 comentários:
Grande "retrato" este que fazes do Cairo... com todos os ingredientes!!!
Bela descrição, deve ser emocionante
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