29/04/2015

UM ROLLS ROYCE... AMARELO-CANÁRIO?!


Desculpem-me o desvio - mas viajemos, por momentos, até ao início do século XX.

Imaginem o escritório do presidente da Rolls Royce. No meu imaginário posso desde já dizer que vejo um palácio vitoriano no centro de uma quinta clássica na Escócia, com o nevoeiro a espreitar atrás da floresta e uma oficina enorme ao fundo, onde são construídos os carros mais exclusivos do Mundo.

Estão a ver o presidente da Rolls Royce sentado na sua secretária? Está a actualizar o Facebook (no meu imaginário já havia facebook nesta altura, mas era a preto e branco e muito lento); quando de repente entra pelo escritório adentro um homem pequeno e com uma barriga enorme, chega ofegante e com a testa a suar, como se tivesse atravessado a correr todo o relvado que separa o palácio do portão. Traz uma carta na mão:

"Senhor Presidente, acabámos de receber uma carta da Índia, e traz no selo o brasão de um rei."

O presidente levanta-se e estende solenemente o braço, recebe o envelope e abre-o no mesmo instante. Lê-o em silêncio. Não revela qualquer emoção. O homem que trouxe o envelope ainda não recuperou o ritmo normal da respiração; e tal qual uma estátua, mantém-se no lugar de onde nunca saiu este tempo todo. Não se atreve a retirar-se, seja por respeito ao homem que tem à sua frente, seja porque está curioso com o conteúdo da carta.

"Chama o William", é a única coisa que o outro diz, com um sotaque britânico mais cerrado que o nevoeiro em volta da quinta.

O William é o responsável pelo departamento de encomendas especiais. Em poucos minutos está sentado em frente ao presidente - incrédulo com aquilo que este lhe pede:

"Um Rolls Royce amarelo-canário?!"

"É o que ele quer, William."

"Mas amarelo-canário... e com uns rebordados a ouro? Isto não faz sentido! Nós somos a Rolls Royce, nós não fazemos carros amarelo-canário!"

"Meu caro... se o Nizam de Hyderabad quer um Rolls Royce amarelo-canário, nós fazemos um Rolls Royce amarelo-canário."

"Com todo o respeito, presidente..."

"Senhor presidente."

"...senhor presidente. Desculpe. Com todo o respeito, mas nós somos a Rolls Royce, não somos a Porsche ou a Ferrari, ou a Hummer."

"Quem?"

"Não interessa. Nós fazemos carros clássicos, senhor presidente. A Rolls Royce é um símbolo de excelência, é uma referência - nós não fazemos brinquedos amarelo-canário com rebordos a ouro e sei lá o quê de marfim e cristal. Nem para o Nizam de Hyderabad"

Desconheço o destino do William. Se foi despedido ou não, ou que argumentos o convenceram a eventualmente mudar de ideias. Ou se calhar nunca existiu William nenhum - nem esta conversa. Afinal, esta história é fruto da minha imaginação. Mas não me admirava nada se uma discussão destas tivesse mesmo acontecido.

O facto é que existe hoje, em exposição no Palácio Chowmahalla, em Hyderabad, um Rolls Royce Silver Ghost Throne amarelo-canário com rebordos a ouro e mais-sei-lá-o-quê em marfim ou cristal, nem sei bem. Foi encomendado em 1911 por Mehboob Ali Khan, o VI Nizam de Hyderabad - e entregue ao seu filho, Mir Osman Ali Khan, que era na altura o homem mais rico do Mundo.

E esta, hem? ;)

Mas Hyderabad foi há mais de uma semana atrás. Como sabem, estou no Kerala. Depois de vários dias à procura de uma Vespa, lancei-me à estrada com o Luís Simões do World Sketching Tour, às voltas pela Índia... de mota. Ainda agora começou e já temos tanto para contar. Estejam atentos!

2 comentários:

inês disse...

Ahahah que historia deliciosa!Imagino o William igual ao Ambrósio :D

Clara Amorim disse...

Imaginação fértil, a tua! ;)
Que história maravilhosa!!!