Voltamos à Birmânia para mais umas histórias?
Depois do grupo se ir embora, tive quase uma semana "livre" para descansar. Decidi ir dar uma volta de mota, mais ou menos sem destino, pela estrada que liga Mandalay a Lashio. Queria tentar ir até Hsipaw, quem sabe fazer um trekking pelas aldeias à volta - mas sem stress. Ia até onde me apetecesse ir, no momento. O objectivo era simplesmente gozar a estrada, parar quando me apetecesse parar, visitar aqui-e-acolá. Logo se veria até onde.
Tentei arranjar uma mota para viajar independente, mas sem grande sucesso. Com mais tempo, provavelmente teria conseguido alguma coisa - mas eu não queria perder tempo e acabei por contratar um dos drivers que tinha acompanhado as voltas com o grupo em Mandalay. Sinceramente, acho que ele estava com mais vontade de ir do que eu, porque assim que falei do meu plano ele disponibilizou-se para vir também. E consegui um bom "contrato", pagando as despesas e pouco mais. Resumindo: na manhã a seguir ao grupo ir embora, fui dar uma volta.
Não vou descrever agora a viagem ao pormenor, apesar de ser rica em detalhes, mas há um ou outro momento que gostava de partilhar aqui no blog. Um deles aconteceu logo no primeiro dia: tinha lido no lonely planet acerca de umas cascatas em Anisakan, uma aldeia pouco antes de Pyin Oo Lwin, uma antiga hill station do tempo dos britânicos. Ficavam a pouco mais de setenta quilómetros de Mandalay, por isso vinha mesmo a calhar como primeira paragem "a sério".
Segundo o guia, as cascatas Dattawgyaik ficavam no final de um trilho íngreme no meio da floresta, que demorava quase uma hora a descer, perigosíssimo, etc... por isso confesso que fiquei um bocado desiludido quando, ao chegar ao acesso à cascata, constatei que o tal trilho tinha sido alargado para uma estrada de terra
batida onde cabiam dois carros - e mais ainda quando comecei a descer, sob um calor insuportável porque não havia sombra, e encontrei uma retroescavadora a
"trabalhar" a estrada. Que tristeza. Enfim: é o progresso. Aproveitar,
capitalizar, rentabilizar. Os turistas merecem.
De qualquer forma: a cascata.
O que interessa aqui é a cascata.
Demorámos, como suposto, quarenta e cinco minutos a chegar lá abaixo, a um pequeno parque de estacionamento vazio que, assim que o acesso estiver aberto aos carros, vai provavelmente encher. Mas por enquanto era "nosso".
Daí subimos por um caminho meio enlameado, o ar já dominado pelo som da água a cair... de cento e vinte e dois metros de altura... a humidade fresca... e, de repente, isto:
Serão precisos adjectivos?
A sério.
Respira fundo, Jorge.
Passados alguns minutos de uaus e arrepios, lá me decidi a tomar um banho. Com um cuidado extremo porque o chão era ultra-escorregadio, avancei pelas rochas até ficar completamente imerso nos salpicos da cascata. Era tão violenta, a queda de água, que nem era preciso ir para muito perto para ficar todo molhado.
Lembro-me de olhar para cima e a custo ver o céu azul. Por trás do lugar de onde caía a água, estava uma nuvem.
Parecia mesmo que a cascata caía directamente da nuvem.
Aqui.
Agora.
Acabámos por almoçar ali, eu e o driver. Provei um pitéu que, não sei como, ainda não conhecia: salada de folhas de chá. Que delícia! A repetir, das próximas vezes que vier à Birmânia.
E durante a refeição fiquei a saber que:
1. conta a lenda que um príncipe do Antigamente saltou do topo desta cascata, montado no seu cavalo branco e com uma estátua do Buda nos braços, pois ia ser atacado por inimigos e preferiu sacrificar-se a ver a estátua destruída.
2. a cascata ganhou poderes mágicos e diz-se que há poucos anos um grupo de nove amigos veio para aqui divertir-se, beberam álcool e fizeram "malandrices" - e acabaram comidos por mosquitos, na floresta... sim, morreram aqui. A partir do trágico e insólito acontecimento, acredita-se que o número nove dá azar nesta cascata. Supersticiosos como só os birmaneses são, hoje é impensável virem aqui em grupos de nove. E ninguém se atreve a beber álcool... ou a fazer "malandrices".
2 comentários:
Ena, ena!!!! Que maravilha!
Brutal!!! Agora, venha de lá a edição 20 da indochina! Grande abraço (do Porto)
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