Vem para Hanói, jovem.
Vem para a capital vietnamita e aluga uma mota. Basta um dia.
Atira-te ao trânsito da cidade, a essa impossível salganhada de rodas e buzinas e capacetes e faróis. Desvia-apita-trava-desvia. Vai, jovem: percorre as ruas caóticas que fazem o caos corar, desvia-te deste
e daquele e daqueleoutro também, se conseguires, todos ao mesmo tempo. Respira fundo, jovem. Queres soltar um grito? Não aconselho, mas se tiver de ser. Mantém a calma. Acima de tudo, mantém a calma. Ri-te. Só rindo, mesmo. E deixa fluir.
É
mesmo assim.
É como se fosse um jogo de computador.
Um "space invaders" sem raios lazer - um jogo em que
basicamente tens de te desviar de todas as outras naves espaciais, aqui
disfarçadas de motas, que aparecem de todos os lados. É como um pinball mas em vez de tentares acertar na bola, tens de te desviar dela. E de mais mil. E outras mil. Cada qual vinda de cada canto inesperado, a velocidades várias.
Andar de mota em Hanói é assim mesmo: como um jogo de computador
- mas em que só tens uma vida, não podes acertar em ninguém, nem deixar que os
outros acertem em ti. É como um Tetris em que as peças vêm de todo o lado, sem
ordem nem lógica, e nem penses em organizá-las e "fazer linhas", aqui
o objectivo é chegar ao destino sem que nenhuma destas peças, ou naves, ou
motas, ou bolas de pinball - te toque.
Se conseguires: parabéns.
Depois vem falar comigo, quando passar o turbilhão de adrenalina, quando te sair esse sorriso do rosto, quando as mãos deixarem de tremer e quando te passarem as cãimbras em partes do corpo que nunca imaginaste que podiam ter câimbras.
Vamos ter muito que conversar.
2 comentários:
Que crónica fabulosa!!! :)
É a melhor descrição que já vi, do trânsito numa cidade vietnamita!
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