Aquilo que vejo nas notícias
transporta-me, de certa forma, ao que aconteceu em Julho de 2005. Nessa altura choveu
ainda mais, é certo, e Bombaim parecia ter sido apanhada de surpresa. Além dos
danos materiais na ordem dos muitos zeros, morreram quinhentas pessoas. Foi o
caos total.
Como disse, as imagens e relatos de
ontem coincidem, de certa forma, com as de há dez anos. Felizmente os números,
principalmente no que às perdas humanas diz respeito, não se aproximam, nem por
sombras, dos que já mencionei (até agora há registo de duas mortes, um avô de
sessenta e um neto de cinco que foram electrocutados). Mas o facto é que,
apesar desta vez o Município ter reagido mais depressa no que diz respeito à
prevenção e informação da população, parece que ainda há muito trabalho a
fazer.
É verdade que a cidade está a
apenas três metros de altitude, relativamente ao mar. É muito vulnerável a
acontecimentos desta natureza. É também um facto que uma chuvada destas afecta
qualquer cidade no mundo. Mas quem sabe disto diz que muito pouco foi feito
para corrigir algumas das falhas detectadas em 2005. Foram elaborados
relatórios, retiradas conclusões, sugeridas soluções - e muito ficou pelas
intenções.
Falei com amigos que, apesar de nem
se importarem muito com o fim-de-semana prolongado, queixam-se de ninguém fazer
nada. "É sempre a mesma coisa". Ontem a rede ferroviária foi
severamente afectada, com grande parte dos serviços a ser suspensos. As
estradas estavam, na sua maioria, completamente inundadas, com o trânsito
praticamente parado. A maior parte das pessoas optou por nem sair de casa, e
aqueles que o fizeram tiveram de contornar (ou tentar contornar) o caos em que
se transformou a mobilidade em Bombaim. Mais de 50% dos auto-riquexós e táxis,
por exemplo, nem saíram para a rua. E dos que estão a trabalhar, muitos pedem
até ao triplo do dinheiro do costume, ou pura e simplesmente recusam-se a fazer
determinadas rotas. A BEST, que é a Carris lá do sítio, providenciou autocarros
para colmatar a falta de comboios, mas muitos ficaram imobilizados no
trânsito... alguns avariaram.
Fecharam as escolas e os tribunais.
A Universidade de Bombaim adiou o prazo de entrega de candidaturas, que era suposto
terminar esta sexta. Caíram árvores. A electricidade foi cortada em algumas
zonas, por motivos de segurança. As partidas e chegadas nos aeroportos da
cidade sofreram um atraso de 45 minutos, em média. Não houve ainda voos cancelados,
como em 2005, mas três aviões tiveram que ser desviados para outros aeroportos.
E o pior é que não parece que vai
abrandar, no fim-de-semana.
Ainda nem acalmou, a chuva, e já se
apontam dedos entre políticos e outros responsáveis, técnicos e críticos,
"eu avisei", "não estávamos à espera", "isto estava-se
mesmo a ver que ia acontecer".
Vou continuar atento, seja porque
estou na Índia e é-me impossível "passar ao lado", seja porque é
Bombaim, e não consigo não sofrer um bocadinho com isto. E vou dando notícias
por aqui.
1 comentário:
Tempo sempre imprevisível, tal como quase tudo o resto por aí...!
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