Se por um lado faço um esforço para que o relógio e o mapa
não influenciem o fervor das palavras e sentimentos que partilho, a verdade é
que há lugares tão únicos e momentos tão especiais, que às vezes duvido se
foram vividos ou sonhados.
Estes dias a caminho de Uyuni, por exemplo. Se não fossem as
notas de viagem e as fotografias guardadas no computador. Quem diria.
Entre adormecidos vulcões e viva neve ao fundo, um céu impossível
de acreditar de tão azul e tão limpo, uma paisagem pindérica de tantas cores e
padrões, e lagos serenos com pacatos flamingos... avançámos até ao lugar onde
nascem as nuvens.
Mais um geyser, dizem
já os cépticos - mas os cépticos provavelmente nunca aqui estiveram. Eu estive.
Eu, o Bunty e o internacional quarteto de divertidas e giras estrangeiras. Este
lugar: aqui é onde nascem as nuvens.
Dentro do carro, ainda ao longe, apercebemo-nos que havia naquele
vale qualquer coisa de especial - uma espessa nuvem branca a contrastar com as
cores vivas da terra e do céu, libertando-se do chão como fumo de nargilé. Ao
perto, depois dos inevitáveis "não se demorem mais do que não-sei-quantos
minutos, por causa dos gases", "cuidado onde põem os pés" e
outros avisos, descobrimos então que estávamos num lugar só possível em contos
e fábulas.
Aqui nascem as nuvens, garanto-vos.
Não há fábricas, não há operários, não há talentosos artesãos
nem mágicos duendes. Não há truques. É a natureza. Com lama a borbulhar e gases
mal-cheirosos, altas temperaturas e altitudes pouco amigas. Aqui, algures onde
quase nem se dá por isso, neste fim-de-mundo há vapores e cheiros e calores, e
lá se vão elas para o céu, as nuvens, brancas e gordas, vão ali tapar o sol,
vão ali chover e trovejar, fazer aquelas coisas que as nuvens fazem.
5 comentários:
Esse geisér é fantástico!!! Adorava visitá-lo.
Podia dar uma vista de olhos ao meu blog e se pudesse segui-lo??
http://www.fashion--and--you.blogspot.pt/
Uauh .... Uauh ....parece mesmo que as nuvens nascem no chão, é único
Tão único que tem de ser partilhado...!
Uma aventura em grande. Inesquecível, certamente.
Já estive aí há uns anos atrás. E não tive a capacidade de fazer essa leitura. É certeira. É poética. Vou mostrá-la à Pikitim.
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