03/07/2013

O DIA EM QUE A MINHA CÂMARA FALECEU


Nem sei por onde começar o post de hoje. Como já devem ter percebido, o tema não é dos mais felizes. O segundo dia de passeio na Bolívia foi o último da minha máquina fotográfica, depois de dois intensos anos partilhando comigo horizontes e sorrisos. Apagou-se.

Ultimamente já andava a "queixar-se", fosse porque tinha algumas dificuldades a focar, ou porque a objectiva estava suja, ou porque às vezes faltavam-lhe as forças e desligava-se sozinha. Foram muitos lugares e momentos, muitas sensações e enquadramentos. Esta coisa de andar sempre às voltas implica muita rodagem, muita resistência, muito desgaste.

E a queda de ontem, ao fim da tarde, naquele lugar que só existe nos sonhos... deu em pesadelo.

Comecei a manhã com uma sensação estranha, que não conseguia nem consigo explicar muito bem. Tinha tomado o chá de coca e uma aspirina, bebi café e coca-cola, masquei umas folhas para ver se passava... mas havia uma fraqueza, uma espécie de tontura. Parecia que estava dentro de uma bolha e o mundo à minha volta aparecia meio desfocado, os sons muito ao longe. Anunciei ao Bunty e às nossas companheiras de viagem que me estava a sentir esquisito, mas que estava bem - e sentei-me à janela. Apesar do ambiente dentro do carro ser de gargalhadas e música, para mim tudo era longínquo e fiz pouco mais do que perder-me na paisagem. Tirei algumas fotografias. Não me sentia mal. Sentia-me estranho.

Parámos aqui e ali, passeei um pouco na esperança que isto tudo passasse, mas durante quase toda a manhã estive longe. Até quando chegámos ao ponto mais alto deste passeio - e o lugar a maior altitude onde já estive, acima dos cinco mil metros! - fiz pouco mais do que olhar à volta, respirar fundo, sorrir e agradecer aos santinhos e aos deuses o facto de estar aqui.

E quando pouco depois a bolha rebentou e eu senti - fisicamente, juro - que estava de volta, sorri e disse em boa voz que estava tudo bem:

"I'm back!"

Mas este meu regresso coincidiu com uma perda. Estava a preparar uma foto de grupo:

"Sentem-se aí nessa rocha... mais perto... olhó passarinho..."

E click.

O click final. A imagem: em preto.

Exactamente. Este espaço entre a última linha e esta... é a última foto da minha câmara. Depois disso, um aviso em inglês. Desliguei e liguei várias vezes. Carreguei-a de novo. Sempre a mesma coisa.

Assim sendo, e porque apesar de tudo uma máquina é só uma máquina, e coisas são coisas... as fotos de hoje são uma espécie de homenagem a esta fiel companheira. Neste post partilho algumas fotos que tirei durante a última manhã que "passámos juntos". Eu e a minha Nex5. A partir daqui, a viagem será documentada com as fotos que tirar com o meu iphone e com a máquina do Bunty, que  partilharemos até ao fim dos 99 dias. 










3 comentários:

Clara Amorim disse...

Foi, de facto, uma perda irreparável...!
Mas quem sabe, por esta altura, ela já não tenha ressuscitado...! :)

Lv disse...

Oh, coitada da maquina e coitado de ti sem máquina! Mas as últimas fotografias estão fantásticas, e que sítio este.
Pode ser que a amiga máquina ainda "ressuscite".
Quanto à má disposição e à bolha, eu calculo que foi .... a coca!!

Unknown disse...

Percebo a sensação da nossa fiel amiga de viagens um dia ter a sua derradeira ensinos puder acompanhar mais. A minha cometeu suicídio no México onde nao resistiu ao apelo do mar das Caraíbas e mergulhou