10/05/2016

HOSPITALIDADE IRANIANA (1)

Antes desta primeira viagem que fiz ao Irão, tinha ouvido falar muito da hospitalidade dos iranianos. Conhecia muita gente que viajara pela "antiga Pérsia" - e se havia opinião comum a todos, era o facto das pessoas lá serem muito simpáticas, acolhedoras e curiosas.

Ou seja: a minha expectativa já ia de encontro a um determinado perfil.

E, no entanto, fui surpreendido ainda antes de pisar solo iraniano. Estava a viajar com um grupo da Indochina, em Março, convencido que não precisava de tratar de visto com antecedência, porque tinha ouvido falar de "vistos à chegada", quando fui informado pela Nomad que era mais seguro pedi-lo antes, principalmente tendo em conta o tempo que estava a planear ficar no Irão. Mas como eu não estava em Portugal, não podia tratar do visto com a embaixada iraniana em Lisboa; e nem sequer podia ir deixar o passaporte à de Banguecoque, porque estava "em movimento" com um grupo da agência. Tinha de tratar do assunto através de uma agência online.

Foi o que fiz, portanto. Entrei em contacto com uma agência e explicaram-me que precisava de preencher um formulário primeiro, esperar até quinze dias pela aprovação do visto - e depois tinha de ir a uma embaixada à minha escolha e tratar da emissão propriamente dita.

Escolhi a embaixada iraniana de Bangkok, onde ia passar dois ou três dias depois da viagem com o grupo, e de onde tinha voo marcado para Teerão.

Mas o processo não foi tão "pacífico" quanto parecia.

Primeiro, porque o formulário teimava em não "aceitar" os meus dados; mas quando expliquei a situação à senhora da agência, ela ofereceu-se para me enviar um documento Word com os dados e depois preencher o formulário por mim. Muito simpática.

Depois, porque quando chegou a altura de pagar... não consegui. O Irão não tem os seus bancos "ligados" ao sistema internacional, muito provavelmente por causa do embargo, ou seja: nada de transferências bancárias e nem pensar em pagar com cartões de crrédito. A única forma de proceder ao pagamento era por paypal, através de uma agência sediada na Suécia. Muito bem, parecia simples de resolver... mas por alguma razão o paypal não aceitou os meus dados, tentei várias vezes mas sem sucesso; e mesmo quando a minha mãe tentou fazer o pagamento por mim, viu a sua conta ser suspensa por alguns dias e depois recebeu uma mensagem a dizer que o pagamento não era autorizado, "por constituir um risco muito alto".

Risco de quê? Enfim.

Quem mandou termos escrito, na descrição do pagamento: "Iranian Tourist Visa".

Ao fim de vários dias de vai-não-vai, acabei por enviar um mail à senhora da agência, em Shiraz, a dizer-lhe que com muita pena minha ia ter de cancelar o processo do visto, porque não conseguia efectuar o pagamento. Expliquei-lhe a situação e, sem dramas, disse que ia voltar para Portugal, fazer o visto na embaixada de lá... e provavelmente visitar o Irão só daí a um ano.
E, para minha surpresa:

"Não te preocupes com o pagamento, não adies a tua viagem só por causa disso. Diz-me que cidades  vais visitar e havemos de combinar qualquer coisa, pagas-me depois em cash."

O que dizer a isto?

Em dois dias tinha o visto aprovado, duas semanas depois estava em Bangkok a tratar do resto na embaixada... e quase-sem-dar-por-isso estava no avião a olhar pela janela, um lago côr-de-rosa lá em baixo, e eis que "por favor apertem os vossos cintos e desliguem todos os aparelhos electrónicos"... estamos a chegar a Teerão.


2 comentários:

azuki disse...

Os Iranianos são, de facto, genuinamente simpáticos e hospitaleiros. Espero que o aumento do turismo no país não venha destruir isso..

Clara Amorim disse...

Que experiência bonita...! 😃