30/10/2015

A LENDA (ARREPIANTE) DE PENANGGALAN


Há muito, muito tempo, viveu na Malásia uma mulher que, para conseguir uma beleza extraordinária e alguns poderes sobrenaturais, utilizou alguns truques de magia negra e fez um pacto com o Diabo. Esse pacto implicava que não podia comer carne durante quarenta dias... mas como a senhora tinha um apetite voraz e não respeitou o combinado, foi então amaldiçoada e transformou-se numa espécie muito peculiar de vampiro.

Durante o dia, Penanggalan é uma mulher aparentemente normal. Mas à noite, a cabeça separa-se do corpo e voa.

Exactamente, leram bem: voa.

E não é só a cabeça - porque ao separar-se do corpo, traz consigo os pulmões, o estômago e as entranhas penduradas. Em alguns lugares acreditam que brilha como os pirilampos... mas seja qual for o aspecto deste vampiro, não me parece muito agradável à vista. Digo eu.

Penanggalan é uma vampira com um gosto muito particular. Não fica satisfeita com o sangue de qualquer pessoa - gosta especialmente de mulheres que acabaram de dar à luz, ou de crianças recém-nascidas - e é atraída pelos gritos das mulheres que entram em trabalho de parto. As mulheres cujo sangue é bebido pela Penanggalan morrem pouco depois de darem à luz.

Ah: e também gostam muito de placentas - pelo que, segundo a superstição na Malásia, estas são enterradas a seguir ao bebé nascer.

Para proteger as potenciais vítimas do ataque de Penanggalan, nas aldeias malaias é costume "decorar" as janelas da casa de uma mulher que deu à luz com as folhas de uma planta chamada Mengkuang, que tem pequenos espinhos. Diz-se que se a cabeça dePenanggalan tentar entrar dentro de casa, a voar, os espinhos funcionam como uma armadilha e causam feridas graves nos pulmões e nos estômago da vampira.

Mas como há quem diga que esta pode passar pelas frinchas das tábuas de madeira no chão, há ainda pessoas que, mal sabem que há uma mulher grávida, plantam ananáses debaixo da casa.

Outra técnica para combater a Penanggalan é dormir com uma tesoura debaixo da almofada, pois a vampira "tem um medo que se pela" deste objecto. Nunca fiando!

A Penanggalan cheira a vinagre, uma vez que depois dos seus voos nocturnos, tem de voltar a encaixar a cabeça no respectivo corpo, antes que o sol nasça. Assim, mergulha os órgãos em vinagre, que encolhem e facilitam a tarefa de entrar novamente no corpo.

Por isso é que, se alguém sente um forte cheiro a vinagre, mais vale ter cuidado. Alguma Penanggalan está por perto.

Mas atenção, muita atenção!, pois muitas vezes esta vampira assume a aparência de uma parteira. No entanto, qualquer pessoa mais atenta pode desmascará-la, pois têm extrema dificuldade em olhar os outros nos olhos, e estão sempre a lamber as beiças quando preparam as casas para o parto, gulosas com o festim que as espera mais tarde.

E claro: cheiram a vinagre, à partida.

Só há uma forma de matar uma Penanggalan. Para isso é necessário descobrir onde vivem, durante o dia. Há que esperar pelo pôr-do-sol, e assim que a cabeça sair a voar à noite, deve-se deitar pedaços de vidro dentro da cavidade do pescoço, para feri-la mortalmente quando voltar a tentar encaixar a cabeça, de manhã. Ou então pode-se levar o corpo para outro lugar e cremá-lo. Agora escolha.

A lenda desta mulher-vampiro ultrapassou fronteiras - e se na Malásia é conhecida pelo nome Penanggalan, nas Filipinas chamam-na de Manananggal, em Bali por Leyak e em Kalimantan é Kuyang. Na Tailândia responde pelo nome de Krasue, no Laos é Kasu e no Cambodja chama-se Ap.

Já agora, não posso deixar de agradecer ao Kurt Komoda, que gentilmente me autorizou a utilizar as suas aterradoras ilustrações de Penanggalan. Vejam estas e muito mais no seu fantástico blog.

1 comentário:

Clara Amorim disse...

;) Que crónica arrepiante! ;)