29/09/2015

SÃO REFUGIADOS (parte 3)

Ao terceiro dia em Assos, estava deitado ao sol quando pareceu-me ouvir gritos, como que alguém a pedir ajuda. Levantei-me e tentei perceber o que se passava, então reparei que mais à frente na praia, a uns duzentos metros, estava um homem na água a "esbracejar".

"Está alguém em perigo", comentei com a Bahar, que vinha a sair da água.

"E está um barco mesmo aqui ao lado", respondeu-me apontando noutra direcção.

Olhei na direcção para onde apontara e só então reparei no bote, tão perto, cheio de gente.

Entretanto já outras pessoas se tinham levantado para perceber de onde vinham os gritos. Estava claramente alguém na água. Começámos a dirigir-nos para o lugar da praia que ficava mais perto do homem, mas não foi preciso correr porque alguém que estava mais perto tinha-se entretanto atirado à água e nadava na sua direcção. Vimo-lo a puxar o outro para fora, com uma pequena bóia - e acabámos por assistir à cena a uns vinte metros, já não havia nada a fazer, perferimos não nos aproximarmos mais. O homem estava agora deitado nas pedras, a respirar fundo, e confesso que ficámos divididos entre o seu destino e o do barco, que entretanto se afastava.

Muito depressa o homem começou a querer levantar-se e sair dali, pôs-se a apontar para não-sei-onde na praia, não entendi bem o que era, mas

"Ele está bem, não é grave, olha como se mexe. Foi só susto."

Ao que um turco que entretanto tinha parado ao nosso lado comentou:

"Deve ser um turista. Foi nadar, ficou cansado e assustou-se."

Voltámos então para a nossa parte da praia, numa das cinco ou seis plataformas de madeira que se estendem sobre a água, cada uma com capacidade para umas vinte ou trinta pessoas - e dez ou quinze minutos depois, subimos ao restaurante para almoçar e ficámos a ver o bote dos refugiados, ainda à vista, mas já só um pontinho cada vez mais pequeno no horizonte.

"Nós a fazer um grande drama, já a imaginar que o "afogado" era um refugiado que caíra à água... afinal era só um turista."

"Mas olha que não era um turista", disse-me então o senhor do restaurante. "Aquele gajo era o traficante. Estão sempre a fazer isto: avançam cem metros com os refugiados, dão instruções a um ou dois e depois atiram-se à água e abandonam-nos ao destino e à sorte. Muitas vezes nem embarcam com eles, limitam-se a orientá-los e já está. Achas que se atrevem a ser apanhados pela polícia? Nem pensar. Só que este teve azar: atirou-se à água e enquanto nadava de volta teve uma cãimbra. E se nós tivessemos percebido logo que era o traficante, garanto-te que ninguém o tinha ido lá salvar."

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