Não me lembro em concreto de nenhum sonho hoje, mas acordei a cantarolar o clássico dos Moloko, "The time is Now".
Acordar com uma música a massacrar-me a cabeça não tem nada de novo. Acontece-me com uma frequência absurda, por vezes dou por mim a cantar algumas de que nem gosto especialmente. Muito de vez em quando, canções que abomino. Mas vá-se lá perceber os primeiros minutos do dia. ;)
O que é especial no facto de ter acordardado com esta música na cabeça é que, no espaço de dois ou três dias, deve ser o milésimo-trigésimo-sétimo estímulo que me transporta para a eterna questão que tem atormentado tanta gente ao longo dos tempos.
O Aqui-Agora, como gosto de lhe chamar.
Give up yourself unto the moment
The time is now
Give up yourself unto the moment
Let's make this moment last
Conheci, no avião que me trouxe a Hànôi, um francês filho de cambodjanos emigrados em Paris que está a dar uma volta ao Mundo. Viemos o tempo todo à conversa, descobrimos coincidências e curiosidades, partilhámos histórias de vida e insólitos, trocámos contactos - e acabámos por jantar no dia seguinte com uns amigos, no Quan An Ngon; e depois fomos para um bar muito cool junto à linha do comboio, para festejar os anos de uma rapariga que dá aulas no Liceu Francês. Passámos a noite à conversa, entre shots de aguardente de arroz e uma bebida de manga muito doce, cigarros e música de gosto duvidoso que os clientes do bar iam escolhendo no Youtube. Foi uma daquelas conversas que parece que estava-só-à-espera-de-acontecer, interrompida apenas quando um comboio passava à porta do bar, algo único que nunca tinha experienciado e que empresta ao lugar uma espécie de aura insólita. Muito giro.
Anyway: uma das questões que mais discutimos ao longo da noite, entre viagens, religião, história e meditação... foi esta do Aqui-Agora.
Quantas vezes nos permitimos ficar reféns do Passado e do Presente, das Expectativas e dos Medos, daquilo que Devia-Ser, do que É-Suposto, do que Foi-Sempre-Assim. Quantas vezes não vivemos absolutamente o tempo Presente, o espaço Presente - porque estamos demasiado preocupados com aquilo que aí vem, com as consequências, ou com as coisas que nos agarram de trás os preconceitos, as ideias-feitas, todas as amarras.
Onde? Aqui.
Quando? Agora.
Este sou Eu.
Sim: sou também um produto de todas as experiências, dos encontros e das conquistas, das frustrações, do acumular de vários Aquis e muitos Agoras. Sou matéria prima para tudo o que me espera, Bom e Mau, Quente e Frio, Curto ou Prolongado. Somos todos isto tudo.
Mas apesar desta discussão "dar pano para mangas", não me vou demorar muito mais na abordagem ao tema. Este é um blog de viagens. Cada qual, com as suas vivências e opiniões, deve ter os seus pontos de vista, os seus argumentos, as suas dúvidas. Que sirva este post de gatilho para uma discussão, seja elas interior ou com o vizinho do lado, ou entre amigos, ou à mesa com a família.
No outro dia li no facebook uma frase do Dalai Lama que abordava esta temática. Não me lembro ao certo do que dizia. E depois foi um parágrafo que alguém transcreveu do "Disse-me um Adivinho". Ando a ser perseguido pelo Aqui-Agora. :)
E ontem, em passeio pelo Old Quarter de Hanói, passei por um bar que tinha um nome muito original. Chamava-se Where? Now. E o logotipo era um jogo muito interessante com as duas palavras sobrepostas.
Resolvi adaptá-lo. Fiz da frase a foto de capa do FUI DAR UMA VOLTA, no facebook.
Fica aqui a minha versão:
5 comentários:
Pois muito bem, Jorge!
Devo dizer-te que hoje também acordaste muito inspirado... Muito bonito o teu texto!!!
É verdade, inspirador, aqui, agora, já ......
Muito bom!!
ainda que esta pergunta nos inquiete, aprendemos a saboreá-la com o passar dos tempos.adorei o teu texto!quase me apetecia ter partilhado essa conversa
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