01/11/2015

O FANTASMA DE MAE NAK PHRA KHANONG

Era uma vez uma tailandesa chamada Mae Nak, que viveu no reinado do rei Mongkut (séc. XIX) nas margens do rio Phra Khanong, e que para grande felicidade casou com o homem da sua vida, um cavalheiro muito atencioso que respondia pelo nome de Tid Mak.

Tudo parecia bem encaminhado e a bonita Mae Nak rapidamente engravidou do seu charmoso esposo, mas o Destino não andava muito virado para Finais Felizes, naquela altura - e Tid Mak foi chamado pelo Exército para se alistar numa qualquer guerra... de maneira que se viu forçado a abandonar a sua mulher e a criança que estava quase a nascer.

Na guerra, Tid Mak foi gravemente ferido e teve de ser internado num hospital em Bangkok, enquanto Mae Nak sofreu complicações várias enquanto dava à luz, e morreu juntamente com o recém-nascido. Mas quando mais tarde o marido voltou para casa, sem fazer ideia da tragédia que tinha acontecido, encontrou a mulher e o filho à sua espera.


Alguns vizinhos tentaram avisá-lo de que estava a viver com dois fantasmas, mas Mae Nak foi "silenciando-os" a todos, um a um, sem que ele desse por nada. Ou seja: durante algum tempo viveram numa harmonia imperturbável (apesar do facto da vizinhança ir diminuindo a olhos vistos), mas um dia Mae Nak estava a preparar o almoço para o marido quando deixou cair uma lima, que rebolou pelo chão e acabou por cair da varanda para a rua, um andar em baixo. Sem qualquer esforço esticou o braço para a apanhar, mas esqueceu-se que os vivos (ao contrário dos fantasmas, na Tailândia), não têm o poder de esticar os membros a seu bel-prazer.

Pois: os fantasmas na Tailândia são uma espécie de Homem Elástico... mas em mau.

Adiante. Isto até podia ter passado despercebido, não fosse Tid Mak estar a ver. Ficou imediatamente em pânico, apesar de fingir nem ter reparado - e na mesma noite fez as malas e fugiu para um templo ali perto. Os fantasmas não podem entrar em templos.

Quando Mae Nak se apercebeu que o marido tinha fugido, desatou a chorar - mas a tristeza rapidamente foi subsituída por raiva, e num piscar-de-olhos estava a rapariga a matar todos aqueles que se atravessassem à sua frente.

Ao verem-na completamente descontrolada, os poucos vizinhos que ainda restavam decidiram "fazer uma vaquinha" e pagaram a um exorcista para "tratar do assunto". Coisa que nunca lhes tinha passado pela cabeça antes, vá-se lá entender porquê.

O exorcista exorcisou - e depois de conseguirem capturar o espírito de Mae Nak num jarro de barro, lançaram-no ao rio e aí ficou durante muitos anos, enterrado na lama. Finalmente viveu-se em paz - e aos poucos as pessoas começaram a esquecer-se de Mae Nak.


Acontece que alguns anos depois, dois pescadores pescaram acidentalmente o jarro - e curiosos com o seu conteúdo, abriram-o e sem querer libertaram Mae Nak. Em vez de diminuído, o poder do espírito tinha aumentado substancialmente - e mais uma vez lançou-se numa empreitada de vingança e sangue, que só terminou quando um monge chamado Somdej Toh a imprisionou num osso dela própria, amarrando-a a uma pulseira, que passou a usar todos os dias.

Quando o monge morreu, alguns anos depois, a relíquia foi confiada à Família Real Tailandesa, que até hoje a guarda no Palácio Real, garantindo assim que Mae Nak nunca mais voltará a magoar os tailandeses.

Baseada em eventos reais, esta história é das mais célebres no folclore de superstições da Tailândia. Já se escreveram livros e fizeram filmes à volta deste tema. É assunto de conversa recorrente e Mae Nak tornou-se numa espécie de fantasma-celebridade, devido ao seu amor incondicional pelo marido - e tem direito a máscaras no Halloween e tudo. Há, inclusive, um altar dedicado a ela, junto às margens do rio Phra Khanong.



1 comentário:

Clara Amorim disse...

Eu é que adoro estas histórias...!