04/09/2023

PUNTA CANA, AQUI VOU EU

Fui dar uma volta à República Dominicana, portanto. Encontrara um voo barato de Lisboa para Punta Cana e outro de Santo Domingo para a Cidade do México, quatro dias depois. Pareceu-me uma boa ideia, na altura. Por um lado, poupava nos voos; por outro, claro que uma escala de quatro dias tinha o seu custo. Mas achei que era uma boa desculpa para descansar um bocadinho entre o reboliço das despedidas e a roda viva que iam ser os primeiros dias no México; e sempre via um sítio novo, um país que ainda por cima nunca tive grande curiosidade para visitar, confesso.

Alías... só o título deste post é quase impensável, na lógica das minhas voltas habituais.

Mas voltemos ao aeroporto de Lisboa, por um bocadinho.

Um bocadinho, não: umas quatro horas... que estucha!

Lá preenchi o tal e-ticket e despedi-me da minha mãe, que estava especialmente emocionada com esta partida. Mesmo depois de tantos anos de idas e vindas, o coração ainda sente isto. E o facto de ser assumidamente uma estadia longa, e de ter largado o meu ninho em Lisboa - e basicamente estarem todas as hipóteses em aberto, venha lá o que vier... mãe sofre, hem?

Com o pomposo voucher de 20 euros comprei dois sumos de laranja e gengibre, uma caixinha com ananás aos pedaços e dois pastéis de bacalhau. A loucura! O luxo! E ainda tive de dar quinze cêntimos do meu bolso, porque ultrapassei o plafond. Enfim.

A partida foi um-tanto-ou-quanto confusa. Não havia qualquer indicação do voo nos ecrãs, mas como avisaram que o embarque ia ser feito na porta 45, não me preocupei muito. Ou seja: cheguei às 17:15 à porta indicada e tinha acabado de me sentar, quando uma voz no altifalante do aeroporto informou que afinal era íamos sair da porta 42. Tudo bem: levantei-me, bora lá... mas isto ainda vai dar confusão, pensei. Ainda por cima, ao contrário de um voo normal – onde vão passageiros de todos os géneros, dos frequentes aos novatos, dos que estão a ir aos que estão a voltar, dos que vão de férias aos que vão em trabalho, dos que vão para o destino do voo em causa aos que só fazem escala e continuam para algum lado... onde há de tudo, portanto... várias energias, várias formas de estar e reagir –, neste voo charter o perfil era quase todo o mesmo: famílias a ir de férias. Casais com filhos adolescentes amuados agarrados aos ipads e criancinhas irrequietas ora aos pulos e piruetas, ora a fazer birras satânicas; sogras curiosas, confusas e pouco pacientes; cunhados solteiros todos musculados a rir de tudo e a fazer olhinhos às primas que fazem vídeos para o tiktok; os tios que sabem sempre mais do que toda a gente sobre tudo e alguma coisa; a vizinha que passa vida à janela a cuscovilhar... só faltava o Bobi e os piriquitos.

Eu era, muito provavelmente, o único passageiro que estava a viajar sozinho. E garantidamente o único que não tinha um grito de guerra. Já lá vamos.

Eram quase 19:00, quando a porta de embarque finalmente abriu. Quase uma hora e meia depois da hora que tinha sido anunciada – que, por sua vez, era mais de duas horas depois da hora que devia ter sido, inicialmente. O staff, que não tinha culpa nenhuma seja-lá-do-que-for mas que está ali a cumprir ordens e a dar a cara, queria à força embarcar os passageiros à pressa – mas alguns estavam mais virados para uma boa peixeirada, “vocês é que se atrasaram, agora estão com pressa, né?”, e por causa de uns pagam os outros, e vice versa, por isso estavam uns de trombas e os outros de trombas estavam, e eu caladinho que nem uma pescada, nem queria acreditar no filme em que me estava a meter.



Arrancámos às 19:40... quatro horas depois da hora marcada... que bela merda.

Quanto ao voo: digamos que cheguei à República Dominicana com a caderneta cheia - e com alguns para a troca. Era o senhor sentado dois lugares à minha frente que não tinha espaço suficiente para as coisas na bagageira em cima do seu lugar, e que se recusava a arrumá-las um nadinha mais atrás. E a outra a insistir com não-sei-quem para trocar com ela porque o Fábio já estava a mandar vir e ela é que não-sei-quê. E a criancinha aos pontapés no banco da frente (não o meu, felizmente) e os pais na boa, contrariar o menino é que não. E o grupo super excitado que tinha um grito de guerra (provavelmente ensaiado nas férias do ano passado, em Benidorm). E o pai na fila à minha frente, que tinha Paciência Zero para a filha de oito anos, à mínima agitação era logo um olhar de vou-te-aos-cornos mas não ia, ao menos isso. No entanto, era constrangedor, era um horror, eu revoltante e eu evitava tê-los no meu campo de visão porque ficava com o coração apertado, só de ver. E vá-se lá perceber porquê, mas ainda no início do voo parou o filme que estava a ver e deixou o ecrã na mesma imagem durante quase toda a viagem, estivesse acordado ou a dormir.

Neste frame:



Eu também tentei dormir, mas sem grande sucesso. A ansiedade por tudo o que aí vem não me deixava pregar olho - por isso distraí-me com outros filmes: vi o último do Spielberg, vi outro que tinha a sensação de já ter visto, e mesmo assim vi até ao fim, e continuo a não ter a certeza, mas tenho quase a certeza que sim; e vi outro que não achei piada nenhuma mas mesmo assim vi porque era o único que dava para acabar de ver antes do avião aterrar.



Eram quase 22:00, quando aterrámos em Punta Cana. Mas sobre a chegada falo no próximo post.

30/08/2023

STRESS MATINAL

Chegou finalmente o dia de partir. Acordei moído, a energia meio em baixo, o joelho esquerdo dorido, tudo por causa da queda de mota do dia anterior. E sentia-me meio ansioso, nem sei bem explicar, o que era uma novidade relativamente ao meu estado de espírito dos dias anteriores: no meio de tanta combinação de última hora, despedidas e correrias, acho que até estive bastante calmo, meio a pairar, tendo em conta a mudança que se aproximava.

Ao contrário do que normalmente acontece em viagens “normais”, desta vez tinha começado a preparar as mochilas com alguma antecedência. A gestão da bagagem, aliás, era diferente de outras partidas. Não só pelo facto de ir passar uma temporada longa que, na verdade, nem sei bem quanto tempo vai ser... mas porque, sem casa, era toda uma logística entre O Que Vai e O Que Fica.

E o que fica, fica na box.

Ou seja: vai-e-vem e vem-e-vai... e há dois ou três dias que andava com a sensação de me faltar uma coisa ou outra... mas entre as corridas de Lisboa para a Praia das Maçãs e da Praia das Maçãs para Aljezur e de Aljezur para São Teotónio e de São Teotónio para Lisboa... ufffaaaa... até fico tonto... uma coisa ou outra poderia ter ficado esquecida em algum lado. Porque não? Ou talvez já a tivesse guardado na box. Ou, quem sabe, até já a arrumara na mochila. Portanto: se já tinha acordado moído e meio ansioso disto-e-daquilo, imagina quando me apercebi que não só me faltava “uma coisa ou outra”... mas toda uma mochila!

Enviei umas mensagens, viste a mochila?, será que está aqui?, será que deixei ali?, ou vai na volta e esqueci-me dela no autocarro?, e o que será que ficou lá dentro?, lembrava-me de uma camisas, roupa interior, uns livros, o champô... nada de grave, mas e se... enfim, fazer o quê? Ia para o aeroporto daí a um par de horas, não é agora que vai fazer falta. Tenho comigo o passaporte e cartões, escova de dentes, umas mudas de roupa e uns 30kg de mixórdias várias, pelo menos, entre as duas mochilas. Concerteza que me safo.

Ninguém sabia do paradeiro da mochila – e apesar do assunto não me sair da cabeça, mais por teimosia do que outra coisa qualquer, eu tinha mais que fazer. Passei o resto da manhã a apagar os últimos fogos, almocei com a minha mãe na Adega Minhota e lá fomos para o aeroporto.



O voo estava programado para as 15:40 e eu cheguei 2 horas antes ao aeroporto, como manda a etiqueta. Mas não havia nada anunciado nos ecrãs. Quer dizer: haver, até havia. Todos os voos excepto aquele em que eu ia voar. Estranho. Contudo, era um voo charter, e eu nunca tinha voado em voos charter. Será que é normal não o anunciarem? Será que há toda uma logística diferente para voos charter? Fui espreitar no flight radar... e lá estava o voo, mas anunciado para as 19:10! WTF?!

Pedi à minha santa mãezinha para me guardar a bagagem por uns minutos e saí disparado pelo aeroporto adentro, em mood barata tonta, à procura de respostas. Não havia balcão de atendimento da companhia aérea, mas rapidamente descobri o check-in, menos mal. Voltei para a fiel depositária das minhas bagagens e daí seguimos para o check in. Tinha acabado de me plantar na fila (pequena, que sorte!) quando fui abordado por uma agente de viagens com um dossier numa mão, caneta esferográfica na outra, a tomar notas e a riscar números, que me deu as boas tardes e entregou um voucher de 20 euros para utilizar em meia dúzia de lojas do aeroporto, porque o embarque afinal só ia começar às 17:30.

Eram 14:00, entretanto.

“Ah...”, acrescentou a senhora agente de viagens, com um sorriso ensaiado, “e já preencheu o formuláriozinho do e-ticket?”

“O quê?... desculpe, não sei do que está a falar.”

Só faltava revirar os olhos, a senhora agente de viagens:

“Então, nas notas que enviámos aos grupos estava bem explícito... toda a gente tem que fazer o e-ticket.”

Okay: mas eu não fiz o e-ticket. Eu sabia lá do e-ticket. Olhei para as famílias à minha frente, na fila. Voo charter. Já percebi:

“Notas de viagem? Minha senhora, eu não venho com nenhuma agência de viagens, estou a viajar por conta própria.”

A senhora agente de viagens tentou disfarçar um sorrisinho de coitadinho-que-pobrezinho, e já a despachar-me apontou para um QR code e rosnou com uma ponta de nojo:

“O link está ali. Sem e-ticket, não pode embarcar para a República Dominicana.”

República Dominicana?!

Mas tu não ias para o México, Jorge Vassallo? Explico já no próximo post.

28/08/2023

55 FOTOS

Tal como prometido no último post, hoje partilho contigo 55 fotos que celebram os tais 55 dias passados em Portugal, antes de me mudar aqui para o México. São completamente aleatórias, tal como foram estes dias ;)