Fui dar uma volta à República Dominicana, portanto. Encontrara um voo barato de Lisboa para Punta Cana e outro de Santo Domingo para a Cidade do México, quatro dias depois. Pareceu-me uma boa ideia, na altura. Por um lado, poupava nos voos; por outro, claro que uma escala de quatro dias tinha o seu custo. Mas achei que era uma boa desculpa para descansar um bocadinho entre o reboliço das despedidas e a roda viva que iam ser os primeiros dias no México; e sempre via um sítio novo, um país que ainda por cima nunca tive grande curiosidade para visitar, confesso.
Alías... só o título deste post é quase impensável, na lógica das minhas voltas habituais.
Mas voltemos ao aeroporto de Lisboa, por um bocadinho.
Um bocadinho, não: umas quatro horas... que estucha!
Lá preenchi o tal e-ticket e despedi-me da minha mãe, que estava especialmente emocionada com esta partida. Mesmo depois de tantos anos de idas e vindas, o coração ainda sente isto. E o facto de ser assumidamente uma estadia longa, e de ter largado o meu ninho em Lisboa - e basicamente estarem todas as hipóteses em aberto, venha lá o que vier... mãe sofre, hem?
Com o pomposo voucher de 20 euros comprei dois sumos de laranja e gengibre, uma caixinha com ananás aos pedaços e dois pastéis de bacalhau. A loucura! O luxo! E ainda tive de dar quinze cêntimos do meu bolso, porque ultrapassei o plafond. Enfim.
A partida foi um-tanto-ou-quanto confusa. Não havia qualquer indicação do voo nos ecrãs, mas como avisaram que o embarque ia ser feito na porta 45, não me preocupei muito. Ou seja: cheguei às 17:15 à porta indicada e tinha acabado de me sentar, quando uma voz no altifalante do aeroporto informou que afinal era íamos sair da porta 42. Tudo bem: levantei-me, bora lá... mas isto ainda vai dar confusão, pensei. Ainda por cima, ao contrário de um voo normal – onde vão passageiros de todos os géneros, dos frequentes aos novatos, dos que estão a ir aos que estão a voltar, dos que vão de férias aos que vão em trabalho, dos que vão para o destino do voo em causa aos que só fazem escala e continuam para algum lado... onde há de tudo, portanto... várias energias, várias formas de estar e reagir –, neste voo charter o perfil era quase todo o mesmo: famílias a ir de férias. Casais com filhos adolescentes amuados agarrados aos ipads e criancinhas irrequietas ora aos pulos e piruetas, ora a fazer birras satânicas; sogras curiosas, confusas e pouco pacientes; cunhados solteiros todos musculados a rir de tudo e a fazer olhinhos às primas que fazem vídeos para o tiktok; os tios que sabem sempre mais do que toda a gente sobre tudo e alguma coisa; a vizinha que passa vida à janela a cuscovilhar... só faltava o Bobi e os piriquitos.
Eu era, muito provavelmente, o único passageiro que estava a viajar sozinho. E garantidamente o único que não tinha um grito de guerra. Já lá vamos.
Eram quase 19:00, quando a porta de embarque finalmente abriu. Quase uma hora e meia depois da hora que tinha sido anunciada – que, por sua vez, era mais de duas horas depois da hora que devia ter sido, inicialmente. O staff, que não tinha culpa nenhuma seja-lá-do-que-for mas que está ali a cumprir ordens e a dar a cara, queria à força embarcar os passageiros à pressa – mas alguns estavam mais virados para uma boa peixeirada, “vocês é que se atrasaram, agora estão com pressa, né?”, e por causa de uns pagam os outros, e vice versa, por isso estavam uns de trombas e os outros de trombas estavam, e eu caladinho que nem uma pescada, nem queria acreditar no filme em que me estava a meter.
Arrancámos às 19:40... quatro horas depois da hora marcada... que bela merda.
Quanto ao voo: digamos que cheguei à República Dominicana com a caderneta cheia - e com alguns para a troca. Era o senhor sentado dois lugares à minha frente que não tinha espaço suficiente para as coisas na bagageira em cima do seu lugar, e que se recusava a arrumá-las um nadinha mais atrás. E a outra a insistir com não-sei-quem para trocar com ela porque o Fábio já estava a mandar vir e ela é que não-sei-quê. E a criancinha aos pontapés no banco da frente (não o meu, felizmente) e os pais na boa, contrariar o menino é que não. E o grupo super excitado que tinha um grito de guerra (provavelmente ensaiado nas férias do ano passado, em Benidorm). E o pai na fila à minha frente, que tinha Paciência Zero para a filha de oito anos, à mínima agitação era logo um olhar de vou-te-aos-cornos mas não ia, ao menos isso. No entanto, era constrangedor, era um horror, eu revoltante e eu evitava tê-los no meu campo de visão porque ficava com o coração apertado, só de ver. E vá-se lá perceber porquê, mas ainda no início do voo parou o filme que estava a ver e deixou o ecrã na mesma imagem durante quase toda a viagem, estivesse acordado ou a dormir.
Neste frame:
Eu também tentei dormir, mas sem grande sucesso. A ansiedade por tudo o que aí vem não me deixava pregar olho - por isso distraí-me com outros filmes: vi o último do Spielberg, vi outro que tinha a sensação de já ter visto, e mesmo assim vi até ao fim, e continuo a não ter a certeza, mas tenho quase a certeza que sim; e vi outro que não achei piada nenhuma mas mesmo assim vi porque era o único que dava para acabar de ver antes do avião aterrar.
Eram quase 22:00, quando aterrámos em Punta Cana. Mas sobre a chegada falo no próximo post.